ArtigosDestaquesMundoOpiniõesPolitica

As mercadorias ilegais e clandestinas também seguem a lei da oferta e da procura

“Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente. Os usuários, os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também. Você tem uma troca de gente que vende porque tem gente que compra..” (Fonte: O Tempo.), disse Lula, na última sexta-feira (24), em uma coletiva de imprensa em Jacarta, capital da Indonésia.

A “Guerra às Drogas” é a mais cínica e bem-sucedida operação de marketing geopolítico do século XX. Uma cortina de fumaça para o imperialismo norte-americano expandir seu controle.

O problema sempre foi de demanda, sem a qual a mercadoria encalha. Produtos sem consumidores não se sustentam.

Os Estados Unidos são o maior mercado consumidor de drogas ilícitas do planeta. Sua sociedade ávida por fuga e prazer instantâneo financia o ciclo global.

No entanto, o modus operandi americano articulado em 1960 inverteu a lógica.

A política de “guerra às drogas”, instituída por Richard Nixon, elevou o combate ao narcotráfico a uma ferramenta de geopolítica e controle doméstico.

Sob esse nome de operação, a perseguição às drogas serviu como justificativa para criminalizar e reprimir territórios urbanos marcados por mobilizações sociais e por uma presença significativa de populações negras e imigrantes herdeiras das lutas por direitos civis.

O inimigo, então, não é o vício doméstico. É o produtor estrangeiro, o “narco” latino e os “gangsters” negros das periferias. A imagem construída de um corpo típico ameaçador justifica qualquer ação para a defesa dos “bons valores nacionais”.

A lógica econômica mais primária do sistema, a Lei da Oferta e da Procura, rege este mercado com mais força do que qualquer exército ou política de Estado. Foi sobre este ponto que o Presidente Lula tocou. Sem a demanda colossal dos mercados ricos, liderados pelos Estados Unidos, a oferta de drogas simplesmente não existiria em escala global.

Em março deste ano, a BBC acompanhou um traficante de fentanil, a substância que gerou uma grande crise de saúde nos EUA, tendo picos de mais de 80 mil mortes por ano. Na entrevista, “Jay”, o traficante, dá uma resposta fortemente emblemática:

 “Eles sempre tentam nos culpar, dizendo que somos nós que estamos envenenando os cidadãos americanos. Mas eles são os maiores usuários.” (Fonte: BBC.)

O testemunho de “Jay”, na fronteira, é a materialização viva desta equação. A figura do traficante, tão demonizada, é, na verdade, o obreiro precarizado de uma cadeia cujo comando central e maiores lucros estão longe das periferias. O “traficante” de esquina é tão vítima dessa lógica perversa quanto o usuário, um peão descartável em um sistema que gera bilhões para o capital financeiro internacional; afinal, o dinheiro não fica debaixo dos colchões.

Enquanto o discurso oficial em Washington transforma países como o México e a Colômbia em bodes expiatórios, a fala de Jay mostra que o problema vem de dentro. A crise do fentanil, com suas centenas de milhares de mortes, é um produto do desespero social dos EUA, um vácuo que o Estado falhou em preencher com saúde pública e dignidade de vida.

Dados oficiais do Departamento do Tesouro e da ONU indicam que entre 20% e 30% de todo o dinheiro lavado globalmente do narcotráfico, algo entre US$150 e US$190 bilhões anuais, é reciclado dentro dos EUA, através de seu sistema financeiro e de seu mercado imobiliário. (Fontes: ONU, Revista Opera.)

No entanto, a ineficiência do governo americano chega a ser irônica. No ano passado, o país conseguiu apreender apenas 0,1% do total estimado. Ou seja, o combate contra as substâncias foi de fato eficaz? Pois as estatísticas não estão do lado de Trump.

Esta estratégia de projetar a culpa para terceiros é a essência do imperialismo estadunidense.

Os EUA, enquanto maior produtor mundial de armas e possuidor do sistema financeiro que mais lava dinheiro do narcotráfico no mundo, criaram um ciclo de autossustentação da violência. Eles fabricam o problema, vendem a “solução” militarizada e, por fim, lucram com as duas pontas.

O objetivo nunca foi eliminar as drogas. É impossível. A lei da oferta e procura é imbatível. É sobre o controle. Controle de territórios, de rotas, de governos. É criminalizar a pobreza e a dissidência, tanto dentro como fora de suas fronteiras.

Enquanto o governo Trump justifica ações militares com a acusação vil de que o país seria um “narcoestado”, Maria Corina Machado, empresária fascista financiada há décadas pela National Endowment for Democracy (uma conhecida fachada da CIA), faz lobby aberto para uma invasão militar norte-americana ao seu próprio país.

A narrativa do “Cartel de los Soles”, uma história midiática sem qualquer respaldo de investigações internacionais sérias, é a mesma propaganda usada para justificar a invasão do Panamá.

Querem derrubar um governo soberano, que realiza uma revolução socialista democrática, querem privatizar as maiores reservas de petróleo do planeta e vendê-las a corporações norte-americanas, usando o combate às drogas como fake news para o golpe.

Essa estratégia insere-se na Nova Guerra Fria declarada pelos EUA, que busca recolonizar a América Latina para conter a influência da China, hoje o principal parceiro comercial do continente.

A Venezuela virou o prêmio a ser conquistado nessa estratégia, na qual está autorizado até o assassinato de Maduro pela CIA.

O cerco geopolítico que tentam construir em volta da Venezuela, as acusações infundadas contra Gustavo Petro sobre ser o “líder do narcotráfico”; a América Latina toda tem uma marca em sua testa feita pelos EUA, tudo para justificar intervenções, desestabilizar governos e submeter nações soberanas aos seus interesses fascistas.

Lula e Sheinbaum, as duas lideranças latinas com as melhores avaliações governamentais no momento, seguem uma linha parecida de se dispor a ter diálogos francos e abertos com autoridades estadunidenses, porém, nunca renunciando à soberania e autodeterminação de seus países e vizinhos.

“Você não pode simplesmente dizer que vai combater o narcotráfico na terra dos outros sem levar em conta a Constituição dos outros países, a autodeterminação dos povos ou a soberania territorial. Se o mundo ficar uma terra sem lei, fica difícil viver.” disse Lula. (Fonte: O Tempo.)

“Existem leis internacionais que regem como lidar com o suposto transporte ilegal de drogas ou armas em águas internacionais e já expressamos isso ao governo dos Estados Unidos”, declarou a presidente Sheinbaum. (Fonte: Agência Brasil.)

Gustavo Petro tem sido motivo de orgulho no continente inteiro, está sempre escancarando o abuso político de Trump contra as nações em desenvolvimento, a perseguição do imperialismo americano contra sua pessoa e sua família.

“Esqueça que o presidente da Colômbia vai renunciar sob ameaças e extorsões mafiosas. Nós não nos ajoelhamos, não somos uma colônia de ninguém.” escreveu Petro em uma postagem em suas redes sociais. (Fonte: Poder360.)

O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse recentemente que “Não podem dizer que temos mísseis apontados para as cidades dos EUA. E como não podem, inventam um relato extravagante, vulgar, criminoso e totalmente falso”, continuou. Maduro ainda questionou se os EUA “querem outra guerra como a do Vietnã, agora na América do Sul, no Caribe” (Fonte: Terra).

Demonstrando uma leitura plena do plano de Trump de tornar a LATAM inimigos perigosos do mundo, para poder nos “redemocratizar”.

Depois do sucesso do Lula junto ao Trump, seu conceito perante as lideranças internacionais e os povos cresce exponencialmente o peso de suas palavras.

O Brasil pode não ter ainda uma bomba atômica, mas tem um líder e um povo brioso de sua brasilidade.

Francisco Celso Calmon.

Assine nossa newsletter para receber notícias diárias!

Avatar photo

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *