O economista Rodrigo Botelho Campos mostra que o consumo infantil movimenta bilhões. A lógica do mercado não perdoa nem a inocência, que é transformada em lucro imediato
No modo de produção capitalista tudo se transforma em mercadoria e o seu fetiche fetichiza a vida. Sabedoria popular acumulada: “tempo é dinheiro”.
O desenvolvimento tecnológico propiciou a transformação do tempo em dinheiro, a contemporânea “monetização”. É um negócio, “business”…
A obsessão pela acumulação de capital, para reproduzir visando perpetuar o modo de produção capitalista através do convencimento cultural da importância do “ter” para a sobrevivência, o conforto, a segurança, o luxo…é a base deste fenômeno.
Sou cético quanto à crítica à mídia, ao meio, ao vetor, ao aparelho celular: antes do celular era a revista do Zéfiro…antes do Zéfiro era Bocage e tantos outros…
Chamo atenção para o fato de que a adultização não se restringe à sexualização.
Estimular, por exemplo, a beleza plástica do corpo pode ser fator de estímulo ao esporte, mas também à ida para a academia…Quem ganha dinheiro com isto? Muitos, dos donos de escolinha de esporte às academias!
Essência e aparência. O que é determinante é a essência: o que está se vendo, lendo e ouvindo. O que seduz é a aparência, daí a força da beleza higienizando a feiúra. E dá-lhe cirurgias plásticas, cosméticos, etc. Outros negócios.
Uma questão crucial está na fonte da informação, daí a polêmica atual, pois podemos estar a um passo de defender a institucionalização de um determinado tipo de censura.
Eu prefiro o diálogo, informando e esclarecendo. Mas reconheço que nem todos estão preparados para isto; até porque muitos exploraram isto para si, como os pedófilos, os estupradores de dentro de casa…Para estes, polícia e terapia. Outros negócios.
Mas, e o conjunto da sociedade? Formação, preparação dos pais para lidar com este novo velho mundo? Claro. Onde? Nas escolas. Assunto para ser tratado de modo transversal nos processos pedagógicos: mudança de cultura.
Milhões estão em transição do berço para o chão, do chão para o celular…é um processo contínuo. Não se achou uma solução definitiva para a dependência química, também um negócio em si.
Não resolveremos a questão da adultização com facilidade. Por que? Porque os interesses econômicos são gigantescos. Se vc antecipa em um ano a ida das crianças para um patamar de consumo de qualquer item e multiplica por centenas de milhões de crianças, faça as contas e constate o que efetivamente motiva a adultização!
A proibição do celular nos colégios vai gerar resultados? Que pelo menos impacte o processo de aprendizado, porque depois das aulas os celulares são religados!
Portanto, a crítica moral ecoará pouco se não trouxer consigo uma crítica ao “modelo de vida”, que muitos sintetizam em “American Way of Life”, expandido para o planeta, não exclusivo dos americanos mais.
Um outro mundo é possível. Vamos construí-lo.
Por Rodrigo Botelho Campos, economista.