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A ENGENHARIA E O COMBATE À MISÉRIA COMO NEGÓCIO

De tão preocupados em formar ‘bons engenheiros’ (e, talvez, esquecidos do seu objetivo maior), os cursos da Engenharia dão ênfase quase que exclusiva ao ensino das técnicas e pouquíssimo destaque às humanidades. Como resultado, em sua maioria absoluta, os jovens engenheiros são bem formados nas técnicas e, infelizmente, quase analfabetos nas demais áreas dos conhecimentos – artes, sociologia, filosofia, etc. -, construindo uma situação que termina por provocar grandes prejuízos à própria Engenharia. De fato, a insensibilidade social dos engenheiros tende a reduzir a importância política da Engenharia – por ficarem impermeáveis aos problemas sociais, os engenheiros perdem relevância e pertinência na discussão de temas alheios às técnicas, incorporando dificuldades para o exercício de cargos e funções de natureza política – e, também, [tende] a reduzir a capacidade de os engenheiros perceberem o potencial comercial associado à solução dos problemas sociais, perdendo, assim, a chance de fazerem grandes negócios.

Na realidade, são raríssimos os engenheiros não motivados por razões ideológicas que se sensibilizam com a situação vivida, por exemplo, por uma pessoa em situação de rua. Sou engenheiro das antigas (formado em 1977) e não lembro de colega não ideologizado demonstrar preocupação com o relento experimentado pelas famílias ao relento. Observe que, se os engenheiros recebessem formação mais larga nos cursos de graduação, prontamente perceberiam que a solução do problema habitacional dos sem-teto exige a construção de moradias – uma atividade exercida pelas empresas e pelos profissionais de engenharia e, portanto, benéfica ao seguimento. Esta possibilidade se reproduz por todos os problemas sociais.

Será que, se enxergassem a possibilidade de ganhar dinheiro através da construção de moradias para quem não têm casa (ou através da produção de roupas para quem não têm o que vestir e coisas assim), os engenheiros permaneceriam apáticos em relação a questão social? Não há, portanto, dúvidas sobre a necessidade objetiva da reformulação das grades curriculares dos cursos Engenharias, de modo a despertar a sensibilidade social dos engenheiros.

No dia que enxergarem a possibilidade de transformar a solução dos problemas (habitação, saneamento, iluminação, transporte, fome, etc. etc.), os engenheiros ganharão nova motivação para se engajar na luta pelo bem-estar e o enfrentamento à pobreza e à miséria ganhará um grande reforço, dando relevância política e social à Engenharia e aos seus profissionais. Nesta perspectiva, a mudança das grades curriculares dos cursos das engenharias, de modo a alargar a formação e despertar a sensibilidade política e social dos engenheiros, poderia dar grande impulso à solução dos problemas sociais e, neste embalo, tornar melhor a vida da sociedade.

 Naturalmente, a transformação do combate à pobreza e à miséria em negócio não teria o condão de solucionar o problema da Humanidade e funcionaria apenas como medida paliativa. Afinal de contas, mantido o regime Capitalista, o livre mercado sempre se encarregará de criar novos pobres e miseráveis. De qualquer forma, enquanto um regime socialista não puder ser instalado, parte das mazelas decorrentes da generalização da propriedade privada e da liberdade econômica inerentes ao Capitalismo pode ser vencida pelo tratamento comercial do enfrentamento à pobreza e à miséria. Neste processo, a melhor contribuição que a Engenharia pode oferecer à superação dos problemas sociais requer o engajamento de profissionais atentos e sensíveis à questão social.

Alexandre Santos – Ex-presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco e coordenador-geral do programa ‘Engenharia & Desenvolvimento’ do Canal Arte Agora.

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