“Maduro não é Bin Laden”: Celso Amorim defende Venezuela
Fonte: TeleSUR
O diplomata brasileiro alertou que a personalização do conflito venezuelano responde a interesses que buscam remodelar o cenário político da região de acordo com os parâmetros de Washington e Bruxelas.
O assessor especial do presidente brasileiro Celso Amorim se manifestou mais uma vez contra a narrativa ocidental que demoniza a Venezuela e seu presidente, Nicolás Maduro, afirmando que “Maduro não é Bin Laden” e que comparar um líder político latino-americano a um terrorista global é uma distorção perigosa que visa justificar sanções e isolamento.
Amorim — considerado um dos arquitetos da política externa soberana do Brasil — destacou que a personalização do conflito venezuelano responde a interesses que buscam deslegitimar a autodeterminação dos povos e reconfigurar o cenário político da região segundo os parâmetros de Washington e Bruxelas. Em sua análise, Amorim insiste que o Brasil não pode ser um espectador passivo ou um satélite de potências externas. Retomando o espírito de diplomacia ativa que caracterizou os governos de Lula da Silva, o ex-chanceler argumenta que a única forma responsável de enfrentar a crise venezuelana é por meio do diálogo multilateral, com o Brasil como mediador e garantidor de uma solução negociada. “O Brasil deve defender sua autonomia diplomática sem ceder a narrativas punitivas que apenas agravam os conflitos”, alerta Amorim.
O ex-chanceler brasileiro questiona a lógica da “demonização política”, um recurso comum — segundo ele — para desacreditar projetos soberanos que desafiam a hegemonia econômica e midiática ocidental. Amorim ressalta que toda sanção imposta a Caracas afeta diretamente a população venezuelana, afetando seu acesso a alimentos, medicamentos e serviços essenciais. Para ele, equiparar um governo a uma organização terrorista não é apenas moralmente insustentável, mas estrategicamente contraproducente: radicaliza posições, destrói pontes diplomáticas e gera sofrimento entre os setores mais vulneráveis.
A declaração de Amorim transcende a situação venezuelana: aponta para o sentido de independência política que a América Latina deve assumir diante da polarização global. Brasil, México e Argentina — afirma ele — têm a responsabilidade de articular uma frente de diálogo regional que impeça a repetição de políticas de isolamento e punição que tanto mal causaram no passado. O veterano diplomata vê a diplomacia Sul-Sul e os espaços de integração latino-americanos (como a CELAC e a UNASUL) como instrumentos naturais para preservar a soberania regional e coibir a interferência estrangeira. A declaração de Amorim ocorre em meio a um cenário internacional em que o discurso ocidental hegemônico busca reordenar a narrativa sobre a América Latina. Suas palavras reafirmam o papel histórico do Brasil como diplomata, que equilibra forças e se recusa a aceitar que o mundo possa ser dividido entre aqueles que obedecem e aqueles que são sancionados.
Amorim nos lembra que a paz não se impõe: ela se constrói no diálogo com todos, mesmo com aqueles que pensam diferente.
