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O Rio de Janeiro já foi o Estado mais à esquerda nas urnas.

(Fonte: Holofote Notícias.)

Em 1989, na primeira eleição para presidente da República após 21 anos de ditadura militar, sua população foi quem menos votou no então candidato direitista, Fernando Collor de Mello. Apenas 27,08% de seu eleitorado fez o xis na cédula no quadradinho do autodenominado caçador de marajás.

O Rio ao lado do Rio Grande do Sul (com 31,28% dos votos) foram os dois Estados do país que derrotaram Collor.

Curiosamente as duas unidades da Federação já haviam sido governadas por Leonel Brizola, o mesmo que pegou em armas em 1961 e liderou a Campanha da Legalidade, para garantir a posse de Jango na Presidência da República, que os militares queriam impedir.

Importante destacar que o Distrito Federal também rechaçou Collor nas urnas, dando apenas 37,32% do total de votos válidos.

Mas o carioca radicado em Alagoas seria eleito em 17 de dezembro de 1989, com 53,03% dos votos válidos, tendo o Tocantins como seu principal eleitor (78.39%).

Fraude fracassou

Ainda durante a ditadura, em 1982, o Rio elegeu Brizola governador, apesar do esquema de fraude urdido por militares do SNI, o Serviço Nacional de Informações e executado pela Proconsult, empresa de informática próxima ao regime, que foi criada para fazer a totalização dos votos do Rio.

Globo chancelou a trama escondendo a fraude do noticiário.

As eleições de 1982 eram as primeiras diretas para governador, após o golpe de 1964. Os militares queriam assegurar a vitória dos candidatos do PDS, partido da ditadura, como Moreira Franco no Rio.

De azarão no início da campanha, Brizola virou o jogo e ganhou o pleito. Mas quase foi impedido de tomar posse, por esse esquema fraudulento que tentou alterar o resultado das urnas.

A Proconsult, que só existia no papel, foi contratada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio para fazer a totalização dos votos, que naquela época eram contados diretamente nas mesas eleitorais onde haviam sido depositados.

O esquema da ditadura para beneficiar seu candidato, Moreira Franco, aplicava na totalização dos votos, via Proconsult, um tal de diferencial delta, que a partir de um número de votos dados a Brizola, abatia automaticamente um percentual do candidato do PDT.

A fraude só foi descoberta porque a Rádio Jornal Brasil havia montado um esquema paralelo de apuração e percebeu a discrepância do total de votos recebidos por Brizola nas mesas eleitorais e a totalização de votos da Proconsultt informado à população.

Mas o roubo de votos dos cariocas dados a Brizola, começou ainda na apuração das mesas eleitorais.

A zona oeste do Rio, hoje dominada por milícias bolsonaristas, era então reduto brizolista. Lá, cédulas em branco foram preenchidas contra o gaúcho de Carazinho e muitas das que tinham assinalado seu nome, foram anuladas por rasuras.

Todo esse esquema de fraude foi ocultado no noticiário da Rede Globo e no jornal O Globo.

Descoberta a trapaça, o escândalo tornou-se público e Brizola foi confirmado governador.

Cieps

Brizola entraria para a história da educação ao implantar nos anos 1980, os Cieps, centros integrados de educação pública, escolas em tempo integral com atividades culturais e esportivas, além de oferecer acompanhamento médico e odontológico e refeições.

Os Cieps ou Brizolões, como ficaram conhecidos esses colégios, foram idealizados pelo antropólogo Darcy Ribeiro. O projeto arquitetônico dos prédios foi assinado por Oscar Niemeyer. 

Brizola ainda se elegeria mais uma vez governador do Estado, em 1990.

O Rio também consagraria uma governadora petista, negra, ex-empregada doméstica e ex-moradora da favela Chapéu Mangueira.

A deputada federal Benedita da Silva, eleita vice na chapa de Antony Garotinho, governaria o Estado de abril de 2002 a dezembro do mesmo ano.

Lula lá

O Estado também deu o maior percentual de votos de todo o país para Lula na eleição à Presidência da República, em 2002.

O ex-torneiro mecânico derrotaria José Serra, do PSDB, com quase 80% dos votos válidos do Estado, uma vantagem em relação ao adversário de quase 60%.

Em sua reeleição em 2006, Lula conquistaria quase 70% dos votos do Rio, ao derrotar Geraldo Alckmin, que concorreu pelo PSDB.

Em 2010, o Rio ainda elegeria a presidente Dilma Rousseff com mais de 60% dos votos válidos.

Já na reeleição de 2014, Dilma apesar de ter vencido no Estado, teve uma votação muito apertada na capital carioca, com 50,8% dos votos válidos, o que já soava como um alerta de que estava começando um ponto de inflexão no eleitorado tradicionalmente à esquerda.

Tempos difíceis

Foi a partir da implantação da Operação Lava Jato em 2014, que o Rio foi perdendo o cariz progressista, que culminaria, em 2018, na eleição de Jair Bolsonaro à Presidência e do ex-juiz Wilson “atira na cabecinha” Witzel, para governador.

Foi nesse ano que a extrema direita bolsonarista do Rio também elegeria uma bancada expressiva.

Sua truculência materializada na campanha, se expressou na quebra da placa em homenagem a Marielle Franco, por Daniel Silveira e Rodrigo Amorim, eleitos respectivamente para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa do Estado.

À esq., Daniel Silveira ao lado de Rodrigo Amorim Foto: Reprodução

Witzel perderia o cargo em abril 2021, após ser considerado culpado por crime de responsabilidade na gestão de contratos da área da saúde na pandemia de Covid-19.

É na esteira de seu impeachment, que Cláudio Castro, então seu vice, assume o governo do Rio de Janeiro. Se reelegeria em primeiro turno com quase 60% dos votos, em outubro de 2022.

“O povo do Rio de Janeiro mostrou, com o seu voto, que aprova o caminho que nós estamos trilhando”, declarou após ser eleito.

Quando se tornou governador nas urnas, Castro já acumulava um saldo de 68 mortos em chacinas praticadas pelas polícias comandadas por ele.

De lá pra cá, a conta macabra do número de civis mortos em chacinas por suas polícias cresceu exponencialmente.

Em 2022, o eleitor do Rio ainda elegeria Bolsonaro nos dois turnos do pleito.

Neopentecostalismo

Nos anos 2000, o Rio também sofreria uma violenta incursão de igrejas neopentencostais, que já vinham se expandido desde o final dos anos 1980.

Com uma ideologia importada dos Estados Unidos, que mistura a Teologia da Prosperidade com o Antigo Testamento e o enaltecimento de Israel, o Rio foi endireitando nas urnas.

E ocorreu algo impensável, que culminou recentemente em uma espécie de simbiose entre tráfico e religião. O exemplo cabal é o do  Complexo de Israel, localizado também na zona norte da capital carioca, onde na semana passada ocorreu a maior chacina do país nos complexos da Penha e do Alemão.

O traficante Peixão, líder do Terceiro Comando Puro, rival do Comando Vermelho, se assume como evangélico. Fincou bandeiras de Israel no topo do morro que domina e passou a impor sua fé também pela violência. Já mandou suspender missas e destruir terreiros de matriz africana.

O Rio de esquerda se converteu em um rio de sangue.

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