10% mais ricos ganham 63,5 vezes mais que 50% mais pobres no Brasil
(Fonte: Valor Econômico. O Canal Pororoca reconhece a autoria integral do autor sobre o texto abaixo)
Desigualdade Diferença de renda cresceu em uma década no país e segue elevada em quase todo mundo, aponta equipe de Thomas Piketty Desigualdade aumenta em mundo cada vez mais rico
A diferença de renda entre os 10% mais ricos e os 50% mais pobres do Brasil se aprofundou em uma década, segundo a nova edição do Relatório “Desigualdade Mundial” (WIR, ou World Inequality Report, em inglês).
De acordo com o estudo, os 10% do topo tiveram uma renda média anual de € 74,1 mil, em termos de paridade de poder de compra (PPP, na sigla em inglês), o equivalente a R$ 468 mil. É 63,5 vezes mais que a renda média dos 50% mais pobres, que foi de € 1,2 mil, ou R$ 7.574.
Em 2014, os 10% mais ricos do país recebiam 53,7 vezes mais que a metade mais pobre, de acordo com o WIR.
Os dados são do World Inequality Lab, da Universidade de Paris, que tem entre seus cabeças o economista francês Thomas Piketty, autor do bestseller “O Capital no Século 21”.
“No Brasil, a desigualdade permanece entre as mais altas do mundo e cresceu ligeiramente ao longo da última década. Os 10% mais ricos capturam cerca de 59% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres recebem apenas 92”, escrevem os economistas responsáveis pelo estudo.
“A concentração de riqueza é ainda mais alta, com os 10% mais ricos acumulando 70,1% de toda a riqueza, e o 1% mais rico, mais de um terço (37%)”, continuam.
A metade mais pobre do país, por sua vez, era dona de 2,4% da riqueza, segundo o estudo.
O mundo também permanece um lugar profundamente desigual, registrando ainda ligeira piora da concentração de renda, continua o relatório, que foi coordenado por Piketty, Lucas Chancel, Ricardo Gómez-Carrera e Rowaida Moshrif. Segundo as estimativas do WIR, os 10% mais ricos do planeta capturaram 53% de toda a renda gerada em 2025. Na edição anterior do relatório, divulgada em 2022, a fatia era ligeiramente menor, de 52%. Já os 50% mais pobres recebem apenas 8%, contra 8,5% da edição anterior.
Os 10% do topo também eram donas de 75% de toda riqueza mundial em 2025. No relatório de 2022, essa fatia era de 76%. Já a riqueza da metade mais pobre se manteve estável em 2% entre as duas edições.
No topo da pirâmide, a concentração fica ainda mais evidente – e continua a crescer, segundo os autores . Um grupo de aproximadamente 56 mil bilionários, que formam o 0,001% mais ricos do planeta, controla 6% de toda a riqueza global, três vezes mais do que a renda da metade mais pobre do planeta. Em 1995, essa fatia era de pouco menos de 4%.
O documento, que está em sua terceira edição, mostra também que a desigualdade de renda continua alta no mundo. As mulheres recebem apenas 61% da renda dos homens por hora trabalhada, se excluído os afazeres domésticos. Caso sejam incluídas as horas trabalhadas em casa, essa proporção cai a 32%. “Uma das transformações de longo prazo mais dramáticas da economia global tem sido a que da da jornada de trabalho.
Dois séculos atrás, o trabalhador típico fazia 60 horas por semana. Atualmente, a jornada varia entre 30 horas e 45 horas todas as regiões do mundo”, diz o estudo. “No entanto, esse progresso esconde desigualdades persistentes de gênero.
Em todo o mundo, mulheres dedicam mais horas a responsabilidades do lar, que raramente são compensadas ou formalmente reconhecidas, mas representam parte substancial da jornada e contribuem de maneira decisiva para o bem-estar de todos.”
O estudo também traz uma defesa da proposta de taxação mínima das fortunas globais, apresentada no Brasil em 2024 pelo economista Gabriel Zucman, durante a presidência brasileira do G20.
De acordo com os cálculos de Zucman, taxar em 1% as maiores riquezas globais elevaria moderadamente a contribuição dos bilionários para a progressividade do sistema, mas ele permaneceria regressivo. Uma taxa de 2% neutralizaria a regressividade e de 3% o tornaria novamente progressivo.
“A regressividade no topo não é algo inevitável. Com uma taxação mínima, os governos podem restaurar a progressividade do sistema, mobilizar uma soma relevante de recursos e reconstruir a legitimidade da tributação em uma era de fortunas individuais extremadas”, dizem os autores. “Implementar tal imposto é, em última análise, uma questão de vontade política, de confrontar a concentração de riqueza e exigir uma contribuição mais justa daqueles que estão no topo.”
