Tarcísio corta pela metade orçamento do combate ao crime organizado para 2026 em São Paulo
(Fonte: Brasil de Fato. O Canal Pororoca reconhece a autoria integral do autor sobre o texto abaixo)
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), retirou R$ 355 milhões do programa de integração e aparelhamento da segurança voltado ao combate ao crime organizado, vinculado à Secretaria de Segurança Pública (SSP). Com o corte, o orçamento da ação caiu de cerca de R$ 666 milhões para aproximadamente R$ 310 milhões, uma redução de 53%. O montante final, no entanto, foi reajustado para R$ 325 milhões após a aprovação de uma das emendas apresentadas pelo PT.
O novo valor consta na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026, aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) na noite desta terça-feira (16), com 58 votos favoráveis e 19 contrários.
“O relator [o deputado Alex Madureira, do PL] aumentou em mais R$ 15 milhões com base na emenda de nossa autoria. Mesmo assim, o aumento não recompõe a perda que veio na peça orçamentária para o combate ao crime organizado”, afirma o deputado Reis (PT). “A gente esperava que ele acatasse a totalidade, mas prevaleceu mais a lógica do executivo, que tem deixado um pouco a segurança pública de lado e não tem dado a atenção devida.”
“Isso mostra que é um governo que fala muito, tem muito discurso e muita rede social. O que nós estamos vendo na gestão do Tarcísio são policiais que realmente enfrentam o crime no dia a dia com salários injustos e ruins. Não há valorização na base”, acrescenta Reis.
No fim de novembro, representantes de 23 entidades ligadas às polícias Civil, Militar e Penal se manifestaram contra o então secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, e o governador Tarcísio por melhores condições de trabalho. “Segurança pública não se faz com discursos, e sim com resultados”, declarou o delegado André Santos Pereira, presidente da Associação dos Delegados do Estado de São Paulo (Adpesp), na ocasião.
Corte no aperfeiçoamento da Polícia Civil
Outro corte expressivo na Secretaria de Segurança Pública atinge o programa de seleção, formação, capacitação e aperfeiçoamento de policiais civis. O orçamento da ação caiu de R$ 984,8 milhões para R$ 562,4 milhões, uma perda de aproximadamente R$ 422,3 milhões, o equivalente a 42,8% dos recursos.
A redução das verbas destinadas ao treinamento da Polícia Civil compromete a estrutura de investigação do estado, uma vez que a corporação exerce a função de polícia judiciária e é responsável pelo trabalho de inteligência voltado à identificação da hierarquia de facções criminosas. Com menos recursos para a formação técnica, a instituição tem sua capacidade limitada de acompanhar a evolução das estratégias e métodos adotados pelo crime organizado. O orçamento para a Polícia Civil do Estado de São Paulo para o exercício de 2026 é de R$ 6,5 bilhões para R$ 6,7 bilhões, um aumento de apenas R$ 200 milhões.
Para a deputada estadual Mônica Seixas (Psol), a condução orçamentária da Secretaria da Segurança Pública revela “interesses políticos em desmontar esses setores que representam uma política que atua com inteligência”.
“É uma grande hipocrisia, porque o secretário Derrite [agora ex-secretário] estava defendendo há pouco que o Estado fosse responsável por investigar o crime organizado, mas, no momento seguinte, apresenta um orçamento que desmonta a investigação do crime organizado no Estado de São Paulo”, diz a deputada.
Desinvestimento no atendimento à saúde do policial militar
Outro dado que chama a atenção é a redução do financiamento destinado ao atendimento à saúde de policiais militares da ativa, previsto no programa Proteção e Defesa do Cidadão, por meio da ação “Atendimento à Saúde do Policial Militar”. A iniciativa visa a aquisição de materiais e a contratação de serviços para assegurar o atendimento psicológico, físico, médico-hospitalar, odontológico e de medicina do trabalho a todos os policiais militares.
Em 2025, o orçamento da ação foi de R$ 65,4 milhões. Para 2026, o valor caiu para R$ 58,5 milhões, o que representa uma redução de cerca de R$ 7 milhões. “É muito grave num cenário em que o suicídio é a maior causa de morte de policiais no Estado de São Paulo”, comenta a deputada sobre o dado.
De acordo com o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública e com levantamentos do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES), São Paulo registrou, em 2023, um recorde histórico de suicídios entre policiais militares na ativa. No período, a taxa de suicídio entre PMs paulistas foi até três vezes maior do que a observada na população civil em geral.
Contradição
A redução orçamentária também contrasta com o discurso do governador, que frequentemente se posiciona em defesa das polícias no combate ao crime organizado. Após a execução do ex-delegado da Polícia Civil Ruy Ferraz, atribuída ao Primeiro Comando da Capital (PCC), por exemplo, Tarcísio afirmou que os criminosos não imporiam o “terror” em São Paulo. “Vamos esclarecer os fatos, prender os responsáveis e mostrar que o Estado não se dobra”, declarou à época do crime, ocorrido em setembro deste ano no litoral paulista.
Tarcísio também integra o chamado Consórcio da Paz, formado por governadores aliados de direita para combater o crime organizado no país. O grupo surgiu em defesa da megaoperação realizada pelas polícias do Rio de Janeiro em 28 de outubro, considerada a mais letal da história do estado, com 117 civis mortos nos complexos da Penha e do Alemão. Segundo dados oficiais, 58 das vítimas não tinham mandados de prisão em aberto. Para o governador paulista, a operação foi conduzida “com muita excelência”.
O Consórcio da Paz também se posiciona contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública apresentada pelo governo federal, que prevê a criação de uma articulação entre os níveis municipal, estadual e federal no enfrentamento ao crime, nos moldes do Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto promete ser um avanço no combate às organizações criminosas e tem o apoio de especialistas em segurança pública.
“O orçamento da segurança pública demonstra, sem sombra de dúvidas, que a atuação de Tarcísio na segurança pública é puramente ideológica. Não necessariamente para romper com as estruturas do crime organizado ou do crime em si. Tanto é que desfinancia setores nesse sentido”, afirma a deputada Mônica Seixas.
