Chile enfrenta eleição decisiva com favoritismo inicial da esquerda e vantagem da direita no 2º turno
(Fonte: Brasil247. O Canal Pororoca reconhece a autoria integral do site sobre o texto abaixo.)
A eleição presidencial do Chile deste domingo (16) movimenta mais de 15,6 milhões de eleitores e deve redesenhar o rumo político do país pelos próximos quatro anos. A reportagem se baseia em informações originalmente publicadas pela CNN Brasil. Além da escolha do novo chefe do Executivo, os chilenos também elegem deputados e parte do Senado, em um pleito marcado pela volta do voto obrigatório e por uma pauta dominante: a segurança pública.
Diferentemente de 2021, quando o processo constituinte monopolizava o debate eleitoral após a onda de protestos de 2019, a disputa de 2025 ocorre com a criminalidade no centro das preocupações da população. “Nestas eleições, os candidatos estão com um tom mais reformista do que refundacional”, resume o sociólogo chileno Eugenio Tironi. Segundo ele, propostas ligadas à segurança, ao crescimento econômico e ao funcionamento do Estado tornaram-se determinantes para os eleitores.
Candidatos e cenários possíveis
Oito nomes disputam a presidência. A favorita na largada do primeiro turno é Jeannette Jara, ex-ministra do Trabalho e Previdência Social do governo Gabriel Boric e candidata da coalizão Unidade pelo Chile. Durante sua passagem pelo governo, Jara implementou a redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais — uma das principais marcas sociais da atual gestão.
Logo atrás aparece José Antonio Kast, do Partido Republicano, representante da ultradireita e que voltou a moderar o discurso depois de perder para Boric no segundo turno de 2021. Desta vez, porém, parte de seu eleitorado migrou para Johannes Kaiser, ex-aliado e youtuber do Partido Nacional Libertário, que ocupa a terceira colocação nas pesquisas com propostas ainda mais radicais.
A centro-direita é representada por Evelyn Matthei, ex-prefeita de Providência e ex-ministra do Trabalho no governo Sebastián Piñera. Ela tenta consolidar-se como alternativa viável aos candidatos de direita mais conservadora.
As pesquisas indicam que, embora Jara lidere a disputa inicial, Kast, Kaiser ou Matthei venceriam em um eventual segundo turno, mantendo o padrão de alternância entre esquerda e direita observado no país nos últimos 15 anos.
Segurança domina agenda
O tema da violência, catalisado pelo aumento expressivo dos homicídios e pela presença de grupos criminosos internacionais — como o Trem de Arágua —, transformou-se no eixo central das plataformas eleitorais. O fenômeno também é associado ao fluxo migratório de venezuelanos nos últimos anos, o que fez com que a imigração se tornasse outra pauta sensível.
“Nenhum se excetua”, afirma Tironi. “Até a candidata do Partido Comunista diz que a segurança vai ser sua primeiríssima prioridade e que ela será muito dura nesta questão. E todos estão de acordo que a questão da imigração é chave.”
As respostas propostas variam em intensidade:
- José Antonio Kast quer expulsar imigrantes irregulares, erguer barreiras físicas na fronteira norte e reforçar o aparato policial com mais respaldo jurídico.
- Johannes Kaiser defende incursões diretas em áreas dominadas por criminosos, liberação ampla do porte de armas e criação de centros de detenção para imigrantes até sua expulsão.
- Evelyn Matthei sustenta uma linha dura, chegou a defender o uso de dinamite em fronteiras e promete “colocar criminosos na prisão ou no cemitério”, caso vença.
- Jeannette Jara, por sua vez, aposta no rastreamento financeiro do crime organizado, quebra de sigilos bancários e biometria nas fronteiras, combinando endurecimento com regularização parcial de imigrantes indocumentados.
Estado e economia em debate
Outro tema recorrente é o tamanho do Estado chileno. Embora especialistas ressaltem que não há gasto descontrolado, parte do eleitorado sente que a máquina pública é pesada e ineficiente.
Kast promete um ajuste fiscal vigoroso, estimado em US$ 21 bilhões ao longo de quatro anos. Kaiser, ainda mais radical, propõe cortar quase 200 mil cargos públicos, reduzir ministérios e retirar o Chile de organismos multilaterais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Organização Mundial da Saúde.
Matthei defende a redução de ministérios para até 19, mas critica propostas consideradas extremas de seus concorrentes à direita. Já Jara não promete cortes, mas expansão de políticas sociais e continuidade da agenda de bem-estar do governo Boric. Ela afirmou que, caso eleita, deixará o Partido Comunista.
O processo eleitoral
O Chile volta ao voto obrigatório pela primeira vez desde 2012. A votação ocorre das 8h às 18h, com cédulas de papel marcadas com caneta azul. Para vencer no primeiro turno, é necessário ultrapassar 50% dos votos válidos; caso contrário, os dois mais votados se enfrentam no dia 14 de dezembro. Os primeiros resultados devem ser divulgados a partir das 20h.
O próximo presidente toma posse em 11 de março de 2026, em meio a um ambiente de forte cobrança por respostas rápidas à violência e à gestão do Estado — temas que, segundo analistas, definirão o caminho do Chile nos próximos anos.
