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Engenharia e o aperfeiçoamento da Democracia

O exercício da Democracia é incompatível com a gênese e o modo de pensar e de ser das elites.

Não foi sem razão, portanto, que ao longo dos tempos, a prática da Democracia foi alvo de tantos ataques. Não apenas de ataques materializados através de golpes de Estado que subvertem a chamada ordem democrática, mas, sobretudo, daqueles [ataques] que subvertem o próprio conceito, fazendo com que, em algumas ambiências, o termo Democracia passe a se referir a práticas distintas daquelas que originalmente o definiram.

De fato, com o passar do tempo, mediante a manipulação das elites, a opinião pública foi levada a deixar de considerar o termo Democracia como uma forma de governo (‘governo do povo, pelo povo e para o povo’, como bem disse Abrahão Lincoln no famoso discurso de Gettysburg) para passar a aceitá-la como uma mera forma de escolha de governo. Neste caso, desde que faça a escolha de governantes através de ‘eleições democráticas’, até os regimes exercidos de ‘costas para o povo’, estariam incluídos no vasto campo da Democracia.

Numa outra frente, num ataque igualmente bem sucedido, as elites investiram contra o conceito original de Democracia e – tomando por base o formato geral das aristocracias e argumentos de todas as naturezas, inclusive o aumento das populações -, criaram a tal ‘democracia representativa’ – um modelo segundo o qual, ao invés de exercer o primado da Democracia de forma direta, como faziam os pioneiros do ‘governo do povo’, as pessoas o fazem através de representantes (por elas escolhidos).

E a Democracia passou a ser ‘isso’: um regime de representantes eleitos, pouco importando a forma como exercem os mandatos. Um perigo!

A combinação da ‘democracia representativa’ com o conceito tomado como ‘uma forma de escolha’ dá substância a uma falsa ‘Democracia’, respaldando governos exercidos ‘de costas para o povo’ por representantes ditos ‘democráticos’ por terem sido eleitos ‘democraticamente’ – a completa subversão do conceito original de Democracia.

Por isso e muito mais, embora lute com unhas e dentes pela preservação da Democracia (seja ela qual for), a banda pensante da sociedade está consciente da necessidade do seu aperfeiçoamento [aperfeiçoamento da Democracia]. Aliás, com o nítido objetivo de, quem sabe, modular (e desvirtuar, ainda mais) o conceito original, as elites também falam na necessidade de ‘aperfeiçoar a Democracia.

Há, no entanto, uma divergência abissal entre o significado do ‘aperfeiçoamento’ proposto pela sociedade pensante e por aquele pensado pelas elites. Com efeito, ao tempo que as elites falam em ‘reformas políticas’ que reduzam o número de partidos e, mesmo, de representantes, os setores progressistas da sociedade falam em ´popularizar’ a democracia representativa, em trilha que almeja a sonhada Democracia popular (característica do regime que deu origem ao conceito).

Sobre as ‘reformas políticas’ pretendidas pelas elites não há o que falar. Naquilo que diz respeito ao aperfeiçoamento da Democracia, especialmente em relação à popularização do seu formato representativo, no entanto, da mesma forma que ajuda a resolver outros problemas, a Engenharia conta e pode desenvolver ferramentas capazes de dar um grande impulso às modificações desejadas pela sociedade pensante.

De fato, assim como, através das urnas eletrônicas, deu solução para a questões da agilidade da votação e da lisura na apuração, a Engenharia pode dar grande contribuição para a realização de eleições mais limpas e para a ampliação da participação popular no exercício do governo.

Em relação a lisura das campanhas eleitorais, por exemplo, a Engenharia pode lançar mão da Inteligência Artificial (IA) para fiscalizar a aplicação das leis eleitorais e para checar notícias de modo a expurgar campanhas fincadas na manipulação da opinião pública através de fakenews.

Sobre a popularização da democracia participativa (em evolução rumo a Democracia popular), a Engenharia pode lançar mão da evolução científica e tecnológica, especialmente na área da conectividade e comunicação remota, para extinguir limitações baseadas na disponibilidade de espaço físico nas casas legislativas, possibilitando a ampliação do número de cadeiras e, ainda, [possibilitando] a realização frequente de plebiscitos e referenduns, dando maior peso a participação popular no processo político.

Esta é uma pequena amostra de como a Engenharia pode contribuir para o aperfeiçoamento da Democracia, não só dando maior credibilidade às campanhas eleitorais, agilizando os processos de votação e de escrutínio dos votos, mas, também possibilitando a ampliação das casas legislativas e realização de consultas populares.

A sociedade precisa incluir cada vez mais a Engenharia na busca de solução para seus problemas.

Alexandre Santos- Engenheiro civil, ex-presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, coordenador geral da série ‘Engenharia & Desenvolvimento’ e membro da Academia Pernambucana de Engenharia.

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