Engenharia & Sociedade, por Alexandre Santos
Ao contrário daquilo que muitos pensam, Engenharia é uma Arte, uma arte funcional. É a Arte através da qual, mediante a aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos, o homem modifica o Universo, criando um mundo artificial.
Exercendo a Engenharia, o homem constrói edificações que podem servir de moradia, de escolas, hospitais, quartéis, fábricas e todo tipo de abrigo; ele constrói estradas para tornar os deslocamentos mais rápidos, seguros e confortáveis; constrói pontes e viadutos para ultrapassar barreiras e contornar obstáculos, constrói veículos e artefatos; doma as forças da natureza, drena charcos, desvia rios, modifica a topografia, produz energia, cultiva os campos, desenvolve fórmulas capazes de ajustar solos e curar doenças, corrige distorções; enfim constrói o mundo artificial que conhecemos e permite imaginar o mundo que queremos.
Neste sentido, ao construir o mundo artificial, a Engenharia complementa o mundo natural e passa a se constituir em valiosa parceira da obra de Deus.
Quando olhamos nosso entorno, vemos Engenharia por toda a parte – nas paredes, nas pinturas, nas lâmpadas, nos móveis, nos talheres, nos utensílios, nos eletrodomésticos, nas torneiras, nos vasos sanitários, nos equipamentos, nos automóveis, nos ônibus, nos trens, nos aviões, nos navios, nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas embalagens, nas urnas eletrônicas, enfim, vemos Engenharia em tudo. Na realidade, de tudo que preenche o mundo artificial concreto, só não é Engenharia as substâncias orgânicas não modificadas. Aliás, nos próprios seres vivos pode haver muito de Engenharia, seja pelas modificações transgênicas, seja pelos enxertos, seja por outras formas (sem perceber, muitos de nós somos modificados pela Engenharia através de óculos, lentes artificiais, aparelhos auditivos, válvulas e marca passos cardíacos, pinos metálicos e próteses, etc. etc. etc.)
Não é sem razão que a Engenharia está presente em cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Afinal de contas, há Engenharia em quase tudo.
Mas, se há Engenharia naquilo que a sociedade produz, na visada inversa, pode se dizer que falta Engenharia naquilo que não é produzido. Aliás, a falta de Engenharia pode provocar grandes problemas ou, dito de outra forma, a solução da maior parte dos problemas que afligem a sociedade (que, na prática, decorrem da falta de Engenharia) pode ser atingida pela aplicação da Engenharia.
Observe, por exemplo, os graves problemas do déficit habitacional – cuja solução pode ser alcançada através da construção de moradias (que os engenheiros sabem construir) -, das doenças decorrentes do contato e consumo de água infectadas – cuja solução pode ser alcançada através de obras de saneamento (que os engenheiros sabem construir -, e tantos outros.
Surge, então, a pergunta: se a Engenharia tem solução para a maior parte dos problemas da sociedade, por que eles perduram? Ora, os problemas da sociedade não existem por culpa da Engenharia. Afinal de contas, os engenheiros sabem construir as obras e realizar os serviços necessários para a solução dos problemas e estão prontos para o trabalho, bastando a sua mobilização para os projetos.
De fato, se houver a decisão política e a alocação dos recursos necessários para custear os estudos, as obras e serviços necessários, a Engenharia é capaz de dar solução para a maior parte dos problemas que afligem a sociedade.
Nesta perspectiva, a Engenharia é um elemento estratégico do processo de geração do Bem-Estar social.
Alexandre Santos – engenheiro civil, ex-presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, coordenador-geral da série ‘Engenharia & Desenvolvimento’ do Canal Arte Agora.