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Estatística, a quem interessa? Por Rodrigo Botelho

A economia é uma dimensão da vida humana que é aferida por indicadores, sejam eles de atividades econômicas em si (produção, consumo, etc.), sejam da repercussão na vida em geral (taxa de inflação, taxa de desemprego, etc.).

Sempre foi assim? Não. A atividade econômica, que sempre existiu, do período em que o ser humano coletava o que consumia diretamente na natureza, fazendo simples escambo (troca de produto por produto), à venda de produtos excedentes, como alimentos colhidos desde os primórdios da agricultura, passou por milhares de anos, sem aferição científica, sem estatística.

Com o desenvolvimento dos instrumentos de medição, as organizações de todo tipo, públicas e privadas, em todos os tempos, passaram a lançar mão de dados processados para avaliar as condições do ambiente onde se atua e suas repercussões na vida em geral.

Por que? Porque passou a ser importante para diversos fins: desde permitir ao Estado escolher de quem e como cobrar tributos, até a quantificação por interesses comerciais, de pesquisa, etc.

Como o Estado ao longo do tempo foi atuando em atividades econômicas, seja como produtor, seja como fiscalizador, seja como regulamentador, os que exercem o poder de Estado passaram a usar os dados de performance como instrumento de luta política.

Nos regimes democráticos, os Estados de Direito, comandados por pessoas eleitas por sufrágio universal, os dados de performance passaram a ser usados a favor ou contra os que ocupavam circunstancialmente os postos de comando.

Manipulação de dados passou a ser algo, inclusive, objeto da ação de tantos quantos ocupavam posições de poder ao longo do tempo, seja na órbita do Estado, seja no mundo privado.

Os dados passaram, portanto, a ser algo não trivial, de interesse exclusivamente estatístico, para ser algo de interesse geral, com caráter público, merecedores de fé pública, tornando-se algo vital para a gestão do Estado, de seus agentes e de todos quantos sejam aqueles que usam dados para realização de atividades quaisquer.

Profissionalizar com transparência metodológica e caráter público, desde a elaboração das pesquisas, o tratamento dos dados até a sua divulgação, ganhou relevância.

Um espaço de poder que tem critérios de avaliação positivos o é pelo conteúdo revelador dos dados levados ao conhecimento público. Vale também para o contrário, com critérios de avaliação considerados negativos. Ambas as situações são aferidas a partir de parâmetros valorados com critérios socialmente construídos ao longo dos tempos. Critérios que são historicamente dinâmicos. Crescimento do PIB, taxas de inflação, taxas de desemprego, índices de desenvolvimento humano, etc., são alguns de uma infinidade de indicadores que retratam situações em si e são usados no debate na sociedade.

Instrumentalizados pela luta política da disputa do poder de Estado, seja em que instância for, os dados não são mais informações em si, brutas, mas informações usadas para outros fins, lapidadas.

Isto tomou tamanho vulto que passou a ter valor em si; existindo entidades públicas e privadas com o simples propósito de gerar dados. No Brasil podemos citar órgãos públicos relevantes como o IBGE e privados como a FGV, dentre tantos outros, que levantam via pesquisa, tabulam com rigor metodológico e divulgam informações sobre os mais diversos aspectos da vida econômica. Desde levantamento sobre a população (censos decenais e PNAD), levantamentos de setores econômicos específicos, de inflação (há dezenas de tipos de indicadores disponíveis) até aferições de consumo, renda, etc., há uma miríade de dados estatísticos disponíveis.

Este tema se tornou vital na economia, pois, para além da atividade econômica em si, é o que revela, expressa, a economia para si, gerando repercussões fundamentais para a gestão pública e a tomada de decisão de agentes privados. Hoje em dia, quem não fica com pelo menos um olho nos dados estatísticos não consegue ter consciência situacional, vital para a tomada de decisões que gere ações.

A estatística interessa, portanto, a todos. Do indivíduo que compra produtos para si, ao pequeno empresário que monta um novo negócio, ao grande empresário que decide construir uma nova unidade industrial, aos governos que constituem políticas públicas, tudo acontece a partir da reflexão, análise e consolidação de visões geradas a partir de dados estatísticos.

A lisura da garimpagem dos dados, o processamento com rigor científico, a geração de relatórios com métodos aferíveis por transparentes que devem ser, chegando à divulgação com isonomia de acesso, são condições que propiciam a todos os agentes econômicos envolvidos as condições mínimas para tomada de decisão e ação.

As estatísticas, áridas e frias, são, contraditoriamente, as seivas que irrigam e alimentam os vasos inter comunicantes da economia.

Rodrigo Botelho Campos – economista

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Um comentário sobre “Estatística, a quem interessa? Por Rodrigo Botelho

  • Muito elucidante seu texto, Rodrigo. Parabéns!!!

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