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Há algo nessa tumba – por Francisco Celso Calmon

O Conselho Monetário Nacional é o árbitro da meta de inflação. O Banco Central aplica a política dos juros altos para atingir a meta. O governo reage há muito tempo e não convence o BC, apesar de toda a diretoria ter sido indicado pelo Lula.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão superior do Sistema Financeiro Nacional responsável pela formulação da política da moeda e do crédito, tendo como objetivo a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do País.

É uma força bruta institucional que poderia redefinir o alvo e desarmar a política de juros altos. 

Mas o CMN, mesmo com maioria governamental, os ministros Haddad e Tebet, não alterou a meta. 

No centro desta contradição senta-se Galípolo, um presidente antidesenvolvimentista e pró mercado. Sua presença decisiva no CMN é símbolo de que a maioria governista não governa.

Se o CMN tem a faca e o queijo na mão, por que não corta? E mais: por que esse Conselho não divulga ata de suas reuniões?

Penso que o modo de operar de Galípolo no Banco Central revela uma construção discursiva que se apoia nesses três conceitos: axioma, tautologia, hermenêutica.

Ele parte de premissas apresentadas como verdades autoevidentes, que nunca admite como escolhas políticas, apenas como “normas técnicas”, utilizando-se deliberadamente de axiomas. 

Em seguida, recorre à tautologia: repete a mesma ideia em roupagens distintas, desloca palavras, reorganiza termos, refaz a frase, mas preserva o mesmo argumento circular que sempre desemboca na defesa dos juros altos. 

É mestre em vestir uma proposição simplória com diferentes narrativas, como se multiplicar a forma alterasse o conteúdo.

No plano hermenêutico, Galípolo atualiza a tradição de interpretar a norma para produzir um sentido conveniente. 

Ao invés de submeter a política monetária ao sentido social da lei, ele submete a lei à sua própria interpretação tecnocrática, convertendo dispositivos jurídicos em justificativa para sustentar sua agenda no BC.

Assim, a hermenêutica deixa de ser instrumento de interpretação e passa a operar como mecanismo de legitimação. O quinta-coluna do Estado interpreta para afirmar o que já havia decidido. 

Seus discursos, sempre articulados e polidos, tornam-se armas travestidas de centralidade: a arte de dizer o mesmo como se fosse novo, de transformar o óbvio em tese, de revestir escolhas políticas com a retórica da neutralidade técnica.

Galípolo, no fim, é apenas a face visível de um cálculo político que prefere a conciliação com a banca ao enfrentamento.

Tirar o Galípolo da sala da política monetária é imperativo social, pois fede que nem o bode.

Francisco Celso Calmon

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Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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