‘Maior chacina da história mostra falência do RJ’, diz especialista
Fonte: UOL – 28/10/2025*
O diretor do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania do Rio de Janeiro), Pablo Nunes, afirmou ao UOL que a megaoperação do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho não tem precedentes e é a “chacina” mais letal da história do estado.
Maior chacina do estado do Rio de Janeiro, disse o cientista político que acompanha operações com uso da violência no Rio. “Algo completamente sem precedentes, sem nenhum tipo de justificativa, talvez a operação mais irresponsável da história do Rio de Janeiro e mostra a total falência desse governo do Estado na área de segurança pública.” Até o meio da tarde, a Polícia Civil confirmou ao menos 60 pessoas mortas, sendo quatro policiais.
Agentes realizam buscas nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio. A operação conta com dois helicópteros, 32 veículos blindados e 12 carros de destruição, além de drones e ambulâncias.
Número de mortos na operação Contenção superou o da ação policial na favela do Jacarezinho, em 2021. Em 6 de maio daquele ano, a incursão na comunidade na zona norte do Rio terminou com 28 pessoas mortas. “Essa operação é uma das mais letais da história do Rio de Janeiro”, afirmou ao UOL o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
“Megaoperação amplia a já longa lista de operações megaletais, que podemos até chamar de massacres”, diz Nunes. Para o cientista político, as imagens da operação repetem as ações vistas anteriormente. “Tem produzido os mesmos resultados. A pergunta a se fazer é porque continuamos usando as mesmas estratégias?”
Crime deve ser combatido com outras estratégias, defende diretor do Cesec. “Essas ações trazem cotidiano de medo e insegurança. Amanhã o Complexo do Alemão e da Penha vão estar mais seguros? Vai ter um cenário de recuada do CV? Não. Esses grupos vão se fortalecer para evitar novos confrontos.”
“Fala de Castro tem mais marketing do que substância”.
Mais cedo, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), disse que o Rio “estava completamente sozinho nessa luta de hoje”. Ele admitiu ainda que o estado ultrapassou sua capacidade de combater o crime. “Estamos excedendo nossas competências, mas continuaremos excedendo na nossa missão de servir e proteger o nosso povo”, afirmou. Para Nunes, trata-se de uma “busca desesperada por uma marca política mais do que algo com substância”.
Polícia prendeu Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão do Quitungo”, homem de confiança de Doca, um dos líderes do CV nas ruas. Ao todo, 81 pessoas foram presas até o momento — incluindo lideranças da facção de outros estados. Pelo menos 31 fuzis e rádios comunicadores também foram levados pelos agentes. Mais de 200 kg de drogas foram apreendidas, de acordo com a polícia.
Articulação entre forças de segurança não foi observada, pontua presidente do Fórum. “O Comando Vermelho tem que ser enfrentado e a Polícia Federal não foi envolvida”, diz. Ele lembrou ainda da operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto, contra a infiltração do crime organizado na economia formal, que mirou o setor de combustíveis e instituições financeiras em São Paulo. “Não houve um único tiro.”
“A pergunta que fica é se para o governo do Rio de Janeiro a prisão de uma pessoa justifica a morte de outras 56″, questiona Lima. [Essa megaoperação] é um enorme boicote do governo do Rio de Janeiro a todas as mudanças deflagradas a ADPF ou é um grande improviso. Não tem como dar certo. Quem está no meio são os policiais e a população”, afirma ele.
A ADPF das Favelas, como ficou conhecida, foi protocolada após um pedido apresentado pelo PSB em 2019. O processo tratava da letalidade das ações policiais no Rio de Janeiro e tinha o objetivo de traçar um plano para diminuí-la. Durante a pandemia, o Supremo restringiu as operações das polícias do Rio. Caso o Estado tivesse o interesse de deflagrar uma ação, era preciso justificar as ações ao Ministério Público.
Mesmo com as restrições, o Rio não deixou de fazer operações. Em abril, a Corte concluiu o julgamento do processo e determinou uma série de regras que devem ser cumpridas pelo governo estadual em operações policiais.
