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Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, por Francisco Celso Calmon

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

por Francisco Celso Calmon

Afirmar que o Oscar do filme “Ainda Estou Aqui” fez história e é um orgulho para o Brasil, sem dúvida é verdade, porém, dizer que lavou a alma do povo brasileiro, não é bem assim.

Embora o clima tenha sido de Copa do Mundo e a construção merecida desse prêmio foi arduamente trabalhada, não existia uma pendência da indústria americana de premiação ao cinema nacional. Podemos dizer que sempre cultivamos uma expectativa de conquistar a premiação máxima da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas no quesito “melhor filme internacional”, mas não que tenhamos batido na trave em vezes anteriores.

Contudo, não creio que tenha chegado ao ponto de lavar a alma do povo brasileiro, como sublinhou o presidente Lula.

A alma da nação brasileira será lavada quando as Forças Armadas pedirem perdão ao povo e colaborarem com a verdade sobre os mortos e desaparecidos políticos assassinados pela ditadura militar.

“Troféu cultural para o Brasil e mais um triunfo da memória sobre o esquecimento”, disse Beatriz Paiva Keller, filha de Rubens e Eunice, uma frase que sintetiza tudo, ou seja: foi uma vitória do cinema brasileiro, um reconhecimento à nossa cultura, e a revelação da memória sobre o esquecimento e o negacionismo da historiografia mantida pelas forças da mentira e do atraso.

No Other Land, documentário que retrata a ocupação israelense na Cisjordânia, foi outra vitória importante, todavia, também não lava a alma do povo palestino.

Mas vão acumulando vitórias sobre o autoritarismo, o colonialismo e o imperialismo, transmitindo verdades que solapam narrativas mentirosas e desinformativas. 

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**O PIB de 2024 cresceu 3,4%, frustrando as hienas do mercado e a mídia descomprometida com o desenvolvimento econômico e social do país, que estimaram, quando muito, em 1,6% de crescimento do PIB. Quebraram a cara! Mas, como têm cara dura, vão continuar na ladainha crítica a todas as conquistas do governo Lula.

E o gratificante neste crescimento é que não foram só os bancos que aumentaram desmesuradamente seus lucros, como o Itaú, que bateu o recorde de lucro líquido dos bancos nacionais com seus R$ 40,2 bilhões faturados, o Santander, com seu lucro somando R$ 13,872 bilhões, e o Banco do Brasil, que registrou R$ 37,9 bilhões de lucro, mas também a renda da massa salarial e o emprego, cuja taxa foi de apenas 6,6% de desemprego.

Por outro lado, o Brasil caiu para a décima economia no ranking mundial, isto é, está com um PIB menor do que estava relativamente às demais economias dos principais países. Entre os países que mais cresceram em 2024, o Brasil ficou na 19ª posição.

Se essas melhorias estão chegando às mesas dos trabalhadores, fica a indagação do porquê não refletem na aprovação do governo, que está no patamar mais baixo dos 3 governos lulistas, seu primeiro mandato finalizou com 57% de aprovação, e o segundo com 83%.

As três refeições diárias, embora atingidas, saciando os estômagos ds famélicos, não atingiram os corações e as mentes do povo, para fomentar e engajar no apoio a esse governo, eleito com o viés de priorizar a satisfação das demandas populares.

O governo continua claudicando na comunicação, não tem nem estratégia nem método, é reativo aos ataques e não proativo, pois, não é difícil antecipar as críticas e as fakes news da oposição do bolsonarismo terrorista.

Enquanto o governo não assumir uma identidade, uma cara, ele continuará pálido, sem sangue nas veias para empolgar o povo trabalhador. Essa busca de agradar gregos e troianos é uma ingenuidade, uma ilusão, sem paralelo vitorioso na história da luta de classes.

Cercado por fora pelos 3 êmes – mídia, militares, mercado – e pelo i de imperialismo, tendo hoje à frente o ditador terrorista Donald Trump, e minado por dentro pelos representantes do Centrão e outros quintas-colunas, o governo deveria ousar na reforma ministerial pelo viés progressista, e não pela ilusória conciliação, baseada sobretudo no carisma e capacidade de sedução do Lula.

Todo novo ministro deveria assumir o compromisso, quando convidado, com o programa do governo. Caberia ao residente expor qual é o programa que ele tem para a pasta para a qual o candidato está sendo convidado.

A conjuntura eleitoral já começou e é preciso sair das cordas e atacar permanente e assertivamente a extrema-direita, sem tréguas, sem republicanismo, e sim com ousadia para vencer, afinal, a contradição principal internacional e nacional é entre a democracia e o nazifascismo.

Se não for agora, não haverá tempo, senão para chorar depois.

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Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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