O conceito de economia não é econômico, mas político. Por Rodrigo Botelho Campos
O ser humano passou milhares de anos sobre a face da Terra sem produzir nada. Reunidos em clãs para auto-proteção, viviam de coleta de vegetais e caça de animais. Por isto eram caminhantes e foram se espalhando pelo planeta a partir da África, segundo os registros existentes hoje.
Em um momento histórico, sem precisão de data por falta de registro, começou-se a cultivar a terra: surgiu a agricultura. Este modo de produção de alimentos marcou definitivamente a história da humanidade. A agricultura condicionou a fixação do ser humano à terra onde se planta. As consequências históricas disto serão eternas.
A fixação à terra para plantar e replantar alimentos, domesticar e criar animais suscitou o surgimento de aglomerações de pessoas, o que podemos generalizadamente chamar de cidades.
A produção agrícola engendra a necessidade destas aglomerações se auto protegerem. Foi o embrião do que hoje conhecemos como forças armadas e forças policiais.
As cidades foram se estruturando para prover serviços demandados pelas pessoas. A atividade humana foi sofisticando as especializações laborais. Este fenômeno se tornou irreversível e temos hoje cidades com dezenas de milhões de indivíduos.
A agricultura passava por crises de produção, ora com perdas de safras, ora com excesso de produção. O surgimento de estoques, com técnicas de armazenamento rudimentares ainda, acelera a comercialização dos excedentes que os próprios produtores não consomem, indo além do primitivo comércio de peles e utensílios artesanais.
As cidades se tornaram centros de comércio de excedentes: não por acaso ficam próximas ao mar por onde se transportam mercadorias, até hoje concentrando boa parte da humanidade, bem como sediam no centro destas aglomerações os mercados, até hoje existente nas cidades, mesmo as mais modernas, para facilitar o acesso de todos.
Por necessidade de alimentos para saciar a fome de seus povos, muitos destes guerreavam saqueando outros povos. “O homem é o lobo do homem” (Plauto/T. Hobbes). Estes conflitos geravam vencedores e vencidos, sendo estes muitas vezes saqueados e tornados escravos, para o trabalho ou para uso sexual.
Tamanha foi a formação de estruturas de produção usando este tipo de mão de obra que este modo de produção tomou o nome de escravagismo, perdurando por séculos e ainda hoje tendo vestígios transmutados com novas feições.
A trajetória da humanidade vinculado à terra gerou a constituição de um novo modo de produção. Para além da escravidão a emancipação de indivíduos tornou-os servos da gleba (pedaço de terra), serviçais subordinados aos proprietários da terra. Este modo de produção tomou o nome dos senhores da terra, os senhores feudais, daí feudalismo.
Do comunismo primitivo dos clãs, passando pelo escravagismo, chegando ao feudalismo, há um longo e dolorido processo de exploração do Homem pelo Homem.
Com aspectos sutis, mas muitos explícitos, o ser humano vai modificando e mascarando em cada modo de produção a maneira como se explora o próprio ser humano, alienando a consciência sobre as circunstâncias da existência e da exploração, estudado por muitos, inclusive K. Marx.
Avançando na história, com o desenvolvimento das forças produtivas, surgem nas cidades, chamadas de burgos por alguns, estruturas urbanas de produção de bens que vão muito além do simples plantar e da produção do artesanato rudimentar.
As oficinas, as pequenas fábricas, vão engendrando a formação de um tipo de pessoa que se constituiu numa nova classe social, não mais o escravo de seu dono, o servo da gleba de seu senhor, mas um tipo que detém a propriedade de bens de produção, o capital!
Surge, e toma-lhe o nome, dos burgueses, donos do capital, uma nova classe social, a burguesia, e a este modo de produção se chama capitalismo, o modo de produção do capital.
Se revoluções houveram entre os escravos para se emanciparem de grilhões, não seria diferente neste contexto feudal. Os burgueses lutaram para se emancipar do jugo dos senhores feudais, destruindo-os após séculos de luta.
O novo modo de produção que até hoje hegemoniza a vida humana, o capitalismo, também se organiza em classes sociais, os que detém os meios de produção, a burguesia, e os que tem o trabalho a oferecer, os proletários, com proles, que tem a força dos braços para oferecer em troca de míseras remunerações.
A exploração do homem pelo homem modifica-se mais uma vez por circunstâncias históricas. A venda da força de trabalho no mercado de mão de obra é a nova forma de exploração.
Tudo vira mercadoria, tudo se comercializa, até o trabalho. A economia é, portanto, a base por onde se dá a exploração de uns sobre outros. Esta disputa de contraditórios é política, pois se materializa numa disputa de poder, de uns sobre outros. Não há como desassociar economia de política, daí economia política.
Do comunismo primitivo, passando pelo escravagismo, pelo feudalismo, chegando ao capitalismo, a vida humana é vivida sob condições de exploração, disputado em termos de poder de uns sobre outros.
Parou aí? A história nunca acaba enquanto e existir ser humano sobre o planeta. Um outro modo de produção é possível? Sim, com a emancipação plena do ser humano. Muitos, como K. Marx, o chamou de comunismo, a sociedade sem classes, auto regulada.
Economia é uma matéria de estudo, uma ciência, social, portanto, política.
Vamos adiante, lutando!
Rodrigo Botelho Campos – Economista