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Política da química ou propaganda enganosa?

Foi inaugurada a era política da química, como se fosse possível a simpatia, empatia ou energia sinérgica determinarem as relações de poder entre os países e entre os imperialismos e os países explorados e oprimidos por eles.

Com absoluta certeza científica e histórica, podemos afirmar que a química não vai alterar o modo de ser do capitalismo e do imperialismo.

A busca incessante da maximização do lucro e a apropriação cada vez maior e mais intensa da mais-valia do trabalho são intrínsecas ao sistema.

Na semana passada, e nas demais deste ano, as tensões dos conflitos existentes, como a guerra na Ucrânia e a guerra de extermínio de Israel sobre Gaza e outros países do Oriente Médio, levaram a todos nós, analistas da conjuntura, a não descartar a possibilidade de uma guerra mundial.

Todavia, o palco da desmoralizada ONU parece ter expressado um pouco de paz e amor nas mentes e corações das lideranças mundiais.

Mas será que é isso mesmo? Ou queremos acreditar em uma ilusão?

Trump está mal-informado sobre o Brasil, afirmou Lula. E deve ser verdade. Mas, será que Lula não está mal-informado sobre o que é o imperialismo estadunidense e a autocracia trumpista?

Os ares internacionais sempre fazem muito bem ao Lula. Sua estrela brilha mais intensamente, sua lucidez e oratória sobressaem e o tornam referência mundial.

Seus discursos na ONU estão sendo magníficos e de grande importância histórica.

O Trump, por sua vez, foi severo com a ONU e generoso em autos elogios. Se faz de tolo ao não abordar que o mecanismo do veto é antidemocrático e os EUA são useiros e usá-lo. Enquanto existir esta prerrogativa para os membros do Conselho a ONU ficará engessada.

Se as reuniões na ONU até parecem que deram uma reabilitada nesse fórum internacional, e as químicas, isto é, as emoções subjetivas, estão com peso determinante maior do que a realidade objetiva, com suas contradições imanentes e históricas, poder-se-ia nos levar a uma ilusão de que está sendo inaugurada uma quadra de harmonia, de paz, de respeito às soberanias e o fortalecimento das democracias, isto pelo lado internacional; por outro lado, a realidade nacional da força do povo exercendo a sua soberania e dizendo em alto e bom som “Não” a esse carcomido Congresso Nacional, retoma  a avenida da democracia popular.

Foi um sucesso retumbante as manifestações em todo o Brasil contra a PEC da pilantragem e o PL da anistia. Dois projetos inconstitucionais que o povo mostrou no dia 21 que está unido e indignado contra o Congresso plutocrata, de maioria neonazifascista e antipatriota.

Mantendo a mobilização e conscientização da sociedade, poderemos ter um novo Congresso de tendência democrática.

Nós nunca desacreditamos da importância das ruas; pelo contrário, sempre laboramos para a ocupação das ruas, por entender que reside na força social a capacidade de influir de forma determinante na institucionalidade. Entretanto, a ausência de bandeiras e projetos que unissem o povo e a sempre precária unidade da esquerda, bem como, a tomada das ruas pelo bolsonarismo de extrema-direita, foram percalços que somente agora ultrapassamos.

Tudo indica que o paroxismo das duas propostas no Congresso, a da anistia para golpistas e a da blindagem para bandidos de toda ordem, fizeram com que a sociedade se indignasse e manifestasse sua contrariedade na ocupação das ruas.

A moralidade tem sempre peso no sentimento das classes sociais.

O governo não apoiou nem procurou esvaziar, pois, bem diferente da presidenta do México, que usualmente fala às massas, o Lula, depois daquele primeiro de maio fracassado, tem priorizado reuniões em ambientes fechados, falando mais para as nossas bolhas.

A anistia aos golpistas e a blindagem para os bandidos foram sufocadas pelas ruas, o que fica de lição, não para os militantes, mas para as lideranças institucionais, incluindo as que estão no governo, é a de que quando o povo é chamado para causas justas ele responde de forma contundente e assertiva.

Os gabinetes não têm força para as transformações necessárias, mas a sociedade organizada tem combustível para contrapor a esse Congresso golpista.

Não somos surfistas da onda boa, mas somos remadores que enfrentam as diversas marés, com ou sem química, sobretudo sem recuar na defesa, construção e consolidação da democracia e da soberania brasileira.

Francisco Celso Calmon

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Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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