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Psol mira 2026 com Lula e apoia ‘depuração’ da base

Publicação original Valor Econômico

Partido aliado de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso, o Psol vê como correta e tardia a decisão do presidente de “depurar” sua base com a demissão de indicados por deputados infiéis, afirma a presidente nacional do partido, Paula Coradi. Fundada como dissidência do PT, a legenda de esquerda está com Lula nos esforços para tentar reelegê-lo e ampliar as bancadas parlamentares progressistas, mas espera também apoio a bandeiras suas num eventual quarto mandato.

“Está na hora de fazer a depuração mesmo”, diz Coradi ao Valor, comentando as exonerações de apadrinhados por deputados que votaram contra a medida provisória (MP) alternativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de interesse do governo (ver também página A10).

“Deveria ter feito isso antes, porque não é razoável que deputados tenham indicações tão importantes dentro do governo e não contribuam em nada. Não dá para servir a dois senhores. Tem que decidir para onde vai. A eleição já é ano que vem”, completa ela, que define o Psol como um aliado independente do governo — com o direito de divergir em votações como a do arcabouço fiscal. Para a dirigente, o quadro no parlamento “já está difícil o suficiente” e não deve piorar com as ações de retaliação.

Em meio à expectativa pelo anúncio do correligionário Guilherme Boulos para chefiar a Secretaria-Geral da Presidência – movimento ensaiado nos bastidores desde março —, Coradi diz que a concretização do arranjo depende do “tempo político”.

Ela não descarta que o deputado federal, que teve mais de 1 milhão de votos, seja candidato em 2026, mesmo que assuma como ministro. Para isso, Boulos teria que deixar o governo até abril.

“Ele está muito bem posicionado para o Senado, numa eleição que vai ser muito importante, dado o contexto em que a extrema direita quer ter maioria para impor sua própria agenda política.”

Com um discurso “evidentemente mais à esquerda” nos últimos meses, Lula aproveitou a maré positiva criada muito “mais por erros dos outros do que por nossos acertos”, na leitura da dirigente do Psol, que vê um momento de retomada defôlego para os progressistas. “Conseguimos sair do canto do ringue.”

Para ela, a repercussão negativa do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado deram demonstrações de que “uma parte da elite brasileira não topa mais o bolsonarismo”.

Coradi teve o seu visto americano cancelado, no mês passado. Embora não tenha recebido uma justificativa detalhada, ela associa a medida a uma viagem feita ao país em agosto, para uma convenção socialista em Chicago.

Na visão da dirigente, o risco de uma eventual interferência estrangeira, de forças ligadas à extrema direita, torna a eleição brasileira do ano que vem “dramática”.

Enquanto sonda nomes considerados competitivos Brasil afora para disputar cadeiras nos legislativos estaduais e no Congresso, Coradi impõe-se um horizonte realista. “A eleição de 2024 mostrou que 2026 não vai ser um passeio para a esquerda, vai ser dura. A gente aposta na reeleição do presidente Lula. É o que dá para fazer hoje”, diz a líder do Psol.

Ela fala ainda em “dialogar e negociar” para ter influência sobre o programa de um eventual novo mandato. “Também temos as nossas agendas, que queremos que o governo incorpore num próximo período, se eleito. Isso precisa estar combinado com um Congresso que dê maioria para o presidente governar”, afirma.

O Psol discute uma espécie de plataforma básica para todas as suas candidaturas, baseada na recente atualização do programa do partido. O documento busca refletir “o socialismo do século 21” e, segundo a presidente, “deu uma carga de tinta nas questões do novo mundo do trabalho”. A vontade de Coradi para o ano que vem é que o eleitor reconheça os postulantes da legenda por bandeiras como o fim da escala de trabalho 6×1, a taxação das altas rendas, a soberania nacional e o combate à crise climática.

“Nesta transição histórica em que se conforma um conjunto crises, o campo da esquerda entendeu ser importante que a gente compreenda as transformações para voltar a se conectar com as maiorias sociais”, analisa

Coradi, que é historiadora. “Plataformização” e extinção de profissões estão entre as questões trabalhistas vistas como possibilidades para a esquerda retomar espaços no debate público.

A presidente diz saudar a sinalização do governo Lula de que tentará avançar com o fim da escala 6×1, tema vocalizado no Psol pela deputada federal Erika Hilton (SP) e pelo vereador do Rio de Janeiro Rick Azevedo. “Fazia tempo que parte da esquerda não conseguia emplacar uma pauta da agenda do mundo do trabalho e com tanto apelo na sociedade, capaz de superar as barreiras da polarização”, afirma.

Erika, para a reeleição, e Rick, como eventual candidato a deputado federal, são alguns dos nomes cogitados pelo partido para ajudar a mudar um Congresso que é “fisiológico” e “muito ruim”, na opinião de Coradi. Na aprovação da PEC da blindagem, proposta que ela acha um “escândalo”, a atual bancada do Psol foi unânime no voto contrário.

“Dentro da bolha progressista, pegou muito bem”, observa ela, que é crítica do Centrão e do atual modelo de emendas.

A sigla também trabalha para filiar a ex-deputada federal Manuela d’Ávila (ex-PCdoB) e lançá-la ao Senado pelo Rio Grande do Sul. Ela ainda não respondeu ao convite.

Até mesmo em Estados de maioria conservadora, como Santa Catarina, o Psol sonda possíveis candidatos. No Pará, há planos de lançar para deputado federal o ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol).

No ano passado, o partido não elegeu nenhum prefeito no país.

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