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Tecnologia e defesa militar do país

(Fonte: Luís Nassif – GGN. O Canal Pororoca reconhece a autoria integral do autor sobre o texto abaixo.)

O primeiro é a consciência sobre as potencialidades brasileiras em recursos naturais (terras raras, energia verde).

O segundo, é sobre o papel cada vez mais essencial da ciência e da tecnologia.

O terceiro é pelo avanço no planejamento público, incorporando ferramentas tecnológicas para organização da informação.

Políticas públicas são montadas com a articulação de setores, atores, recursos pelos órgãos centrais, muito mais do que por planos fechados de investimento. E a organização e acompanhamento desses sistemas é fundamental.

Um dos setores que demandam criatividade e articulação é o setor de defesa. Especialmente nesses tempos de ampliação de conflitos e disputas geopolíticas.

Por exemplo, o agronegócio brasileiro depende essencialmente do mercado chinês. O que ocorreria se, em algum momento de tensão, os Estados Unidos decidisse impedir o trânsito de navios em direção à China. Ou mesmo que as organizações criminosas se sofisticassem a ponto de reeditar os velhos modelos de pirataria com tecnologia moderna?

Houvesse um mínimo de consciência, a bancada ruralista deixaria de lado esse apoio à caracterização das organizações criminosas como terroristas (o que abriria espaço para ingerência norte-americana) e estaria defendendo o fortalecimento da Marinha brasileira.

É nesse quadro que ganha corpo a ideia de uma Embraer da Marinha.

O novo modelo e o Prosub

Desde a Estratégia Nacional de Defesa, de 2008, ganhou corpo o conceito de Amazônia Azul, isto é, a defesa da costa brasileira, ainda mais tendo em vista a descoberta do pré-sal.

O projeto mais ambicioso foi o Prosub, o programa de submarino nuclear brasileiro, parcialmente destruído pela Lava Jato.

Mesmo assim, especialistas do setor apontam para muitas inconsistências do projeto:

  • Foco excessivo no “hardware” (infraestrutura):

O programa priorizou a construção da base e do estaleiro em Itaguaí — uma obra civil monumental — em vez de consolidar o ecossistema de fornecedores e a capacitação produtiva.

Resultado: prédio pronto, mas cadeia produtiva frágil e sem sequência de encomendas.

  • Gestão vertical e pouco integrada:

A Naval Group (DCNS) detinha controle técnico e decisório sobre partes críticas. A Marinha e empresas brasileiras tiveram participação limitada no núcleo do projeto (design, integração, software de combate).

  • Custos inflados por má governança:

O orçamento inicial (cerca de R$ 23 bilhões) acabou superado. As auditorias apontaram falta de transparência, revisões contratuais sucessivas e baixa execução física em vários momentos.

  • Cronogramas irrealistas e politização de marcos:

Entregas foram definidas por calendário eleitoral, não técnico — o que gerou pressão sobre etapas críticas e resultou em atrasos acumulados e retrabalhos.

Mas o defeito central foi a não integração do projeto com um planejamento mais amplo, de criação de uma rede de fornecedores e de pesquisadores, capazes de absorver as tecnologias e fazer spin-offs delas.

Sem um novo submarino nuclear para projetar, o conhecimento se perdeu. Engenheiros e técnicos formados pela DBCS na França foram demitidos após o término dos dois submarinos projetados, por falta de novas encomendas. O Brasil formou mão de obra e a França absorveu  parte desses profissionais.

Apesar das metas, grande parte dos sistemas críticos (propulsão, sonar, CMS, sistemas de armas) continua importada. O índice de conteúdo nacional efetivo ficou abaixo de 40% nos submarinos convencionais.

A Embraer naval

A proposta desses especialistas é criar uma Embraer Naval, cumprindo o mesmo papel da Embraer para a Aeronáutica. Cria-se um núcleo-âncora e, em torno dele, um ecossistema produtivo.

A experiência poderia começar com um projeto-piloto, o CV03, um navio-base nacional que serviria de modelo para consolidar a cadeia tecnológica.

Serviria de plataforma modular, permitindo versões com diferentes sensores, armas e propulsão (de patrulha a fragata leve);

Permitiria. também, usar tecnologias nacionais — como o CMS Atech + Atlas Elektronik, radares BRADAR, integração Visiona, sistemas de propulsão elétrica e automação digital;

Aproveitaria o know-how acumulado nos programas Tamandaré e ProSub, sem repetir seus gargalos (hiatos, perda de pessoal e dependência externa).

Seria um KC-390 (o avião militar da Embraer) do mar, servindo de vitrine tecnológica e abrindo mercado externo.

Em resumo, dizem esses especialistas, o CV03 não é apenas um navio — é o protótipo político-industrial que permitiria à Marinha e à Embraer reproduzirem no mar o sucesso que o KC-390 teve no ar.

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