20 de novembro, dia da Consciência Negra
O 20 de novembro expõe a ferida aberta do racismo e, ao mesmo tempo, é fruto de décadas de luta do movimento negro, que desmontou a mentira do 13 de maio e obrigou o país a encarar sua história.
A data nasce das disputas que afirmaram o negro como categoria política, resultado de um processo que foi capaz de reorganizar o debate racial no Brasil e tensionar estruturas que sempre serviram para produzir desigualdade.
Enquanto setores conservadores insistem no mito da democracia racial, a maioria negra permanece empurrada para a base social da precarização, do desemprego e da violência de Estado. As chacinas nas favelas, as crianças baleadas, os jovens tratados como suspeitos permanentes revelam que a brutalidade se tornou protocolo.
Quando um jovem negro morre pela violência do Estado racista e eugenista, não só a família, mas a pátria em si, perde um filho seu.
A carne mais barata do mercado, como cantava Elza Soares, continua sendo a carne negra.
O 20 de novembro é conquista.
A homenagem a Zumbi e a tantas figuras negras é ato político que sepulta a narrativa de uma abolição benevolente.
A ausência de reparação demonstra a permanência de nossa herança racista.
A tentativa colonial de destruir o símbolo de Zumbi fracassou porque sua luta atravessou séculos e moldou gerações.
A memória é ferramenta de reorganização política. Recuperar Zumbi, Carolina Maria de Jesus, Zacimba Gaba, Abdias Nascimento, Lélia Gonzalez e tantas lideranças negras não é gesto de lembrança, é gesto de disputa.
A memória confronta o apagamento, devolve humanidade ao que foi arrancado e alimenta novas formas de resistência.
É a luta para que cada menina que se encontra nas páginas de Carolina Maria de Jesus, ou que se inspira na coragem de Zacimba Gaba, e para cada jovem negro que conquista uma vaga na universidade por cotas reconheça que a resistência é legado – uma construção coletiva contra o capitalismo predatório criado e mantido pela elite branca.
A radicalização da luta antirracista segue sendo necessidade urgente.
A luta anticolonial se reinventa todos os dias na periferia, na escola, nos movimentos sociais. Uma vez despertada, a consciência não se apaga.
Que este 20 de novembro reafirme a memória como instrumentos de transformação e siga como espaço de denúncia, mobilização e afirmação de todos os Zumbis, Zacimbas, Carolinas e Machados que construíram o Brasil real.
