Ficha de Alcolumbre
Alcolumbre preside o Senado como os antigos coronéis da borracha do Norte brasileiro. O Canal Pororoca fez um levantamento do seu currículo, a saber:
1. Origem, Perfil e Ascensão Inicial
David Samuel Alcolumbre Tobelem, nascido em 19 de junho de 1977 em Macapá (AP). De origem judaica e ligado a uma família tradicional do comércio amapaense, ingressou cedo na vida pública. Antes de consolidar sua carreira política, chegou a trabalhar como comerciante e iniciou, sem concluir, o curso de Ciências Econômicas no Centro de Ensino Superior do Amapá (CEAP).
Sua trajetória institucional começou em 2001, aos 24 anos, quando assumiu o mandato de vereador de Macapá pelo PDT. No ano seguinte, foi eleito deputado federal, inaugurando uma permanência de três mandatos consecutivos na Câmara (2003–2015). Nesse período, mudou de siglas acompanhando movimentos da direita tradicional: deixou o PDT, ingressou no PFL em 2006 e integrou posteriormente o DEM – legenda que, após fusão com o PSL, formaria o União Brasil, partido em que permanece.
A atuação como deputado federal incluiu uma licença em 2009 para assumir a Secretaria de Obras e Serviços Públicos de Macapá, retornando ao mandato em 2010. Em 2014, venceu a disputa para o Senado com 131 mil votos.
2. Escalada Nacional e Consolidação no Senado
Em 2019, durante o início do governo Jair Bolsonaro, Davi Alcolumbre foi eleito presidente do Senado pela primeira vez, com apoio decisivo da direita bolsonarista, que mobilizou o discurso do voto aberto para derrotar Renan Calheiros. Sua eleição representou uma mudança no eixo de poder interno da Casa e abriu espaço para que consolidasse uma posição de articulação transversal entre diferentes blocos partidários.
Nesse mandato, aproximou o Senado do Planalto, ajudando a viabilizar a agenda econômica de Paulo Guedes e pautas de interesse do governo. Também nesse período, assumiu interinamente a Presidência da República em outubro de 2019, quando Bolsonaro, Mourão e Rodrigo Maia estavam fora do país.
Tentou viabilizar sua reeleição para a presidência do Senado em 2020, mas o STF barrou a recondução. A Corte só alteraria essa interpretação em 2022. Sem poder disputar, operou para eleger Rodrigo Pacheco, seu aliado.
Após deixar a Presidência, comandou a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por quatro anos, o colegiado de maior peso da Casa.
Em 2022, foi reeleito senador com 196 mil votos.
Em 2025, retornou à Presidência do Senado com uma vitória expressiva: 73 votos – um dos maiores placares do período democrático – derrotando Marcos Pontes (PL) e Eduardo Girão (Novo). O resultado consolidou sua imagem como um articulador capaz de unificar desde a esquerda governista até o PL bolsonarista, compondo o chamado “centrão ampliado” – característica política parecida com a de Hugo Motta.
3. Relações Políticas, Alinhamentos e Padrinhos
A trajetória nacional de Alcolumbre está diretamente associada à habilidade de articular com campos ideológicos distintos. No início, a aproximação com Jair Bolsonaro – viabilizada especialmente pelo então ministro Onyx Lorenzoni – foi determinante para sua vitória de 2019 contra Renan Calheiros. No Congresso, essa aliança ajudou a aprovar pautas centrais para a direita, incluindo a Reforma da Previdência.
Ao mesmo tempo, manteve relações com setores moderados e progressistas. Em períodos recentes, operou alianças com o PT, com o PSD de Rodrigo Pacheco (Seu padrinho político) e com o Republicanos de Hugo Motta, com quem articula projetos estratégicos para ampliar a força do centrão nas Casas Legislativas.
Nos últimos anos, Davi Alcolumbre consolidou uma aliança cada vez mais estratégica com Hugo Motta, hoje presidente da Câmara dos Deputados. A articulação entre ambos forma o núcleo central do que se convencionou chamar de “centrão ampliado”, bloco que agrega siglas como Republicanos, União Brasil, PL e PSD em arranjos flexíveis de governabilidade.
A relação com Hugo Motta se fortaleceu a ponto de ambos coordenarem votações simultâneas entre Câmara e Senado. Um exemplo concreto foi o episódio em que Motta telefonou para Alcolumbre para barrar a votação na CAE sobre taxação de bets e fintechs.
Também é considerado padrinho político de dois ministros no governo Lula: Juscelino Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional).
Rodrigo Pacheco se tornou um dos principais aliados de Alcolumbre após 2021. A relação foi consolidada quando Pacheco assumiu a presidência do Senado após articulação de Alcolumbre, impedido de disputar a reeleição.
Entre os movimentos mais importantes:
- Alcolumbre patrocinou a ascensão de Pacheco em troca de controle sobre a CCJ, relatorias e influência direta na condução da Casa;
- Pacheco, por sua vez, apoiou a estratégia de Alcolumbre durante votações sensíveis e manteve espaço ampliado para seu grupo político dentro da Mesa e da estrutura administrativa.
4. Rupturas com o Governo Lula e Crise Institucional
A relação de Davi Alcolumbre com o governo Lula deteriorou-se rapidamente em 2025. A crise atingiu seu ápice durante a indicação de Jorge Messias ao STF. Alcolumbre defendia a nomeação de Rodrigo Pacheco e esperava ser consultado formalmente. Quando Lula fez o anúncio sem falar com ele, interpretou o gesto como desrespeito institucional.
A tensão ampliou-se com a informação – desmentida pelo próprio Alcolumbre – de que Lula o teria telefonado para pacificar a situação. O episódio gerou uma ruptura pública entre Alcolumbre e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner. Em conversa com senadores, Alcolumbre declarou que não existe mais relação institucional ou pessoal com Wagner, classificando o rompimento como definitivo.
- Desde então, passou a operar uma articulação interna para derrubar Messias, comunicando a senadores que votaria contra o indicado. Paralelamente, anunciou que pautaria propostas de impacto orçamentário bilionário que desagradavam o governo, ampliando a pressão política.
Essa deterioração das relações com o Planalto consolidou a aproximação de Alcolumbre com a direita e com o bloco bolsonarista, que vê no Senado uma arena estratégica para 2026, especialmente para projetos de ataque ao STF e de fortalecimento da oposição.
5. Escândalos, Investigações e Acusações
A trajetória de poder de Davi Alcolumbre é acompanhada por um conjunto expressivo de investigações, denúncias e episódios que se estendem por diferentes períodos de sua carreira parlamentar.
Davi Alcolumbre é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal relacionados à sua campanha de 2014 para o Senado.
O primeiro, instaurado em 2016, apura:
- uso de notas fiscais falsas e inidôneas;
- ausência de comprovantes bancários;
- contratação de serviços datados após o período eleitoral;
- cheques emitidos a empresas supostamente prestadoras de serviço, mas endossados pelo contador da campanha ou sacados em espécie.
O segundo inquérito, aberto em 2018, trata especificamente da apresentação de notas fiscais frias na prestação de contas. O TRE-AP arquivou o caso, por ausência de prova de que Alcolumbre tivesse ciência da falsificação; porém, a então procuradora-geral Raquel Dodge discordou, defendendo a necessidade de aprofundar a investigação no STF e considerando “improvável” o desconhecimento do senador sobre as irregularidades.
A assessoria de Alcolumbre afirma confiar que as apurações comprovarão que ele não teve envolvimento nenhum com os fatos investigados.
Esquema de Rachadinha: R$ 2 Milhões (2016–2021)
Em 2021, a revista Veja revelou denúncias de que seis assessoras lotadas no gabinete de Davi Alcolumbre, entre 2016 e 2021, seriam funcionárias fantasmas submetidas a esquema de devolução de até 90% dos salários.
Segundo o relato das denunciantes:
- todas foram instruídas a abrir contas bancárias;
- Deveriam entregar cartões e senhas aos operadores do gabinete;
- Os saques eram realizados logo após o pagamento, em um caixa eletrônico a 200 metros do Senado;
- Uma das funcionárias recebia oficialmente mais de R$ 14 mil, mas ficava apenas com R$ 1.350.
O operador do esquema seria Paulo Boudens, então chefe de gabinete de Alcolumbre. Ele foi exonerado em 2020. Em depoimento à Justiça, Boudens assumiu responsabilidade administrativa, afirmando que Alcolumbre “não sabia dos detalhes” e firmando acordo de devolução de valores.
O caso não avançou judicialmente e, até hoje, não resultou em responsabilização criminal. Entre as denunciantes, quatro estavam cadastradas no Bolsa Família no mesmo período em que constavam como servidoras com salários altos no Senado.
Caso INSS, Arpar e o “Careca do INSS”
Entre 2023 e 2024, a Polícia Federal identificou que a empresa Arpar Participações e Empreendimentos, investigada por integrar um esquema de fraudes em consignados do INSS, repassou R$ 3 milhões ao advogado Paulo Boudens, assessor e homem de confiança de Alcolumbre.
A Arpar operava como empresa de passagem, recebendo R$ 49 milhões de firmas ligadas ao lobista Antônio Carlos Camilo Antunes – o “Careca do INSS” – e redistribuindo valores a terceiros, incluindo Boudens.
O Senado, sob comando de Davi Alcolumbre, impôs sigilo de 100 anos aos registros de circulação de Antunes nos gabinetes, o que gerou forte reação de parlamentares e suspeitas de blindagem política.
O presidente da CPMI anunciou que pretende convocar todos os beneficiários dos repasses, incluindo Boudens. O lobista “Careca do INSS” foi preso antes de prestar depoimento.
Emendas, ONG, Saúde Link e Uso de Jatinhos
Outro eixo de investigações envolve a destinação de R$ 15 milhões em emendas parlamentares de Alcolumbre para a Secretaria de Saúde do Amapá, entre 2022 e 2023, que contratou a empresa Saúde Link por meio da ONG Samarate.
– O programa financiado foi o Mais Visão, voltado para cirurgias de catarata.
A Saúde Link, favorecida pelas emendas, é apontada como beneficiária do uso de aeronaves que serviam ao senador durante sua campanha.
Registros da Força Aérea Brasileira confirmam que aeronaves da empresa pousaram na fazenda da família Alcolumbre nos dias 16 e 17 de agosto de 2022.
O TRE-AP abriu investigação eleitoral sobre o uso do jatinho durante a campanha e sobre suposta relação indevida entre as emendas e os contratos.
O MPF, por sua vez, conduz investigação paralela por possível improbidade administrativa no programa Mais Visão.
Caso Master: Investimento de Fundo Previdenciário em Banco Sem Garantias
Indicado por Davi Alcolumbre, o gestor do fundo de pensão dos servidores do Amapá, Jocildo Lemos, ignorou alertas e investiu R$ 100 milhões em títulos do Banco Master, que entrou em liquidação.
O caso expõe risco de perdas milionárias para servidores e aposentados do Estado.
A ligação direta entre o nomeado e Alcolumbre ampliou a pressão política para responsabilização.
Declarações e Controvérsias Públicas
Entre os episódios de desgaste público, destaca-se a declaração de Alcolumbre, durante a CPI das ONGs, criticando a presença de Marina Silva:
“Imagine o que é tolerar Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la.”
Pontos importantes
Seu movimento entre Lula, Bolsonaro e Hugo Motta não é episódico: compõe um padrão de atuação em que a sobrevivência política se sustenta sobre controle de pautas, gestão de cargos e domínio. Após a ruptura com Lula, Alcolumbre passou a se aproximar novamente da direita, consolidando uma frente informal com setores do PL e com nomes influentes do bolsonarismo. Essa aproximação é motivada por uma combinação de interesses:
- fortalecimento do bloco oposicionista para 2026;
- potencial impeachment de ministros do STF – pauta cara à extrema direita;
- expansão da bancada do PL no Senado a partir de 2027;
- interesse do partido em ter maior controle sobre pautas estruturantes da Casa.
Fontes:
https://www12.senado.leg.br/institucional/presidencia/perfil-do-presidente
https://www.davialcolumbre.com.br/biografia/
https://veja.abril.com.br/politica/a-rachadinha-de-r-2-milhoes-de-davi-alcolumbre
