Em meio à crise, Bolsonaro usa Flávio como contenção e intensifica o impasse na extrema-direita
A extrema-direita bolsonarista entrou oficialmente em sua fase mais aguda de crise. A escolha de Flávio Bolsonaro como candidato expõe não apenas a fragilidade do clã, mas também a incapacidade de reorganizar um projeto que se sustentava na força pessoal do chefe agora preso.
A indicação de Flávio Bolsonaro, no entanto, não demonstra força unificadora.
A decisão de Bolsonaro de impor o nome de Flávio funcionou como um corte cirúrgico para bloquear especulações e neutralizar articulação do bastidor sobre a sucessão. Ao definir o candidato antes que qualquer alternativa ganhasse corpo, o clã tenta estancar a sangria e forçar unidade. A dúvida central, porém, é se esse movimento foi uma jogada eficaz de contenção ou se, ao contrário, pode acelerar a implosão do conjunto da extrema-direita
Após a prisão de Bolsonaro, seus filhos buscaram aproximação com Ciro Gomes, movimento que evidenciou o desorientamento do clã. Michelle condenou essa iniciativa e expôs publicamente as divergências. Cada gesto da família altera alianças, cria distanciamentos e reposiciona atores que orbitam esse campo.
Tarcísio de Freitas era o nome mais consistente para representar a extrema-direita no campo institucional. Tinha apoio sólido do mercado financeiro, acumulava capital político e era visto como o candidato capaz de oferecer uma fachada de racionalidade à radicalização da extrema-direita. A retirada de seu nome do tabuleiro cria novos conflitos.
Michelle Bolsonaro, que antes ensaiava se lançar à Presidência, agora se subordina às decisões do marido preso, apesar dos conflitos familiares internos. Resta saber se conseguirá conquistar um espaço de relevância – como vice, como eventual candidata ao Senado – ou se seguirá como uma figura feminina instrumentalizada, usada para mobilizar o apoio da base conservadora popular.
No centro dessa disputa, surge a pergunta que organiza a corrida presidencial de 2026. O que fará a direita tradicional? Parte já integra a frente ampla de Lula. Parte hesita entre manter esse pacto ou migrar para a ala conservadora da direita radical . Essa escolha define o tabuleiro. Se permanecer com Lula, há chance real de vitória no primeiro turno. Se buscar recompor com a extrema-direita, cria um bloco conservador tentando impedir sua continuidade.
Apesar das articulações precárias e das combinações farsescas, o clã bolsonarista conseguiu se unir em torno de um nome. Mas onde ficam Tarcísio e os demais governadores da extrema-direita nesse rearranjo forçado? As tramas de uma nova remodelagem política começam a se mover, e cada personagem testa seus limites num campo pressionado pela crise, pela disputa e pela urgência de manter o poder. O bloco radical está no limiar entre a recomposição e a ruptura – e qualquer passo pode redefinir o mapa da direita nos próximos meses.
Francisco Celso Calmon
