O desespero do Império
Os Estados Unidos enfrentam hoje uma dívida impagável.
Caso todos os credores resolvessem cobrar pelos títulos do Tesouro americano, o país iria à bancarrota.
O império norte-americano, herdeiro direto da expansão colonial, começa a sentir o peso de suas próprias contradições. A promessa de liberdade, que serviu de fachada para séculos de dominação econômica e política, agora se revela como retórica gasta.
Com o comércio internacional deixando de ser transacionado exclusivamente em dólares e passando a adotar outras moedas, a moeda norte-americana vem se enfraquecendo. Se, por um lado, ela ainda é utilizada para quitar a dívida, por outro, vai deixando de ser uma moeda forte. Em contrapartida, o ouro acumulou, somente em 2025, uma valorização de 60%.
Se o Império optar pela guerra, sabe que enfrentar Rússia e China seria um ato de suicídio.
A Europa, por sua vez, tem dado demonstrações claras de decadência financeira e militar.
O conflito na Ucrânia funcionou como um laboratório, evidenciando que qualquer confronto bélico direto com a Rússia resultaria, muito provavelmente, em derrota.
Israel, ao acender o vespeiro do Oriente Médio, acumula perdas incalculáveis: mais de 20 mil soldados incapacitados, 7 mil mortos, armamentos e equipamentos de alta tecnologia perdidos, relações internacionais deterioradas e um prejuízo superior a 150 bilhões de dólares, tudo para produzir o genocídio palestino – conforme amplamente noticiado pela mídia internacional. São perdas irrecuperáveis.
Os Estados Unidos, incapazes de aceitar a multipolaridade mundial, veem seus caminhos cada vez mais estreitos e sem garantias de êxito.
Caso a juventude mundial, em 2026, repetisse o espírito insurgente de 1968, o próprio sistema americano poderia implodir, trazendo para o debate interno os perigos que ameaçam o país e suas trágicas saídas.
É nesse contexto que a América do Sul volta a ser cobiçada.
Contudo, a nossa América do Sul já não é mais colônia há muito tempo e encontra-se preparada para resistir a qualquer tentativa de retrocesso.
A todo custo, resistirá à sua transformação em zona de guerra.
Por séculos, a América Latina foi tratada como terra de pilhagem – suas riquezas, seu trabalho e sua soberania serviram de combustível para o desenvolvimento do Norte global.
Como lembra Galeano, “a chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os subúrbios do sistema”. O subdesenvolvimento do Sul foi o preço do enriquecimento das metrópoles do Norte.
Na atualidade, o que antes se impunha como domínio, hoje enfrenta resistência, um continente que, ainda atravessado por tensões, recusa-se a ser novamente reduzido à condição de periferia explorada.
Atualmente, existem duas revoluções em curso no mundo: a construção do socialismo na China e a revolução bolivariana – social e política – dentro da democracia venezuelana. É o socialismo com característica chinesa, é a revolução democrática bolivariana com caraterística venezuelana.
À primeira vista, parecem fenômenos desconectados, mas, em essência, estão profundamente ligados. Ambos resultam de estratégias que têm como uma de suas variáveis centrais o enfrentamento ao imperialismo.
Tanto Xi Jinping quanto Nicolás Maduro estavam – e seguem – prevenidos e preparados para enfrentar as pressões, fustigamentos, encenações, piratarias, sequestros e embargos, tarifários ou não, promovidos pelos disseminadores do imperialismo estadunidense.
Dessa forma, a América do Sul volta a se afirmar como território de novas perspectivas. O esgotamento do Império e a emergência de novas forças indicam não apenas resistência, mas a possibilidade concreta de uma outra ordem em construção.
Francisco Celso Calmon
