‘Tráfico está nos grandes poderes do asfalto’: lideranças jovens de favelas condenam operação mais letal no Rio
(Fonte: Brasil de Fato. O Canal Pororoca reconhece a autoria integral do autor sobre o texto abaixo.)
Muito abalados com a chacina ocorrida nesta terça-feira (28), comunicadores populares moradores de favelas foram às redes sociais manifestar sua indignação com a presença de um estado que apresenta poucas oportunidades para as comunidades. A Operação Contenção foi realizada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro para cumprir mandados de prisão contra o Comando Vermelho (CV), colocou 2.500 agentes policiais nas ruas e levou à morte de 121 pessoas, de acordo com dados oficiais, um número que sobe a todo momento.
A diretora do filme recentemente premiado Cheiro de Diesel e comunicadora popular Gizele Martins condenou as operações nas favelas e questionou o que seria uma operação de sucesso. “No asfalto as pessoas apoiam que suas casas sejam invadidas também? Mas sem mortos?Não queremos operações nas favelas! A favela não é culpada por seu empobrecimento!” e acrescentou que o “O tráfico não está nas favelas, está nos grandes poderes do asfalto”, escreveu.
As denúncias trazidas por Martins estão presentes no primeiro relatório produzido pela ouvidoria da Defensoria Pública do Estado (DPE). A Defensoria recebeu denúncias de uma provável operação a partir do relato de mães que receberam comunicados das escolas locais para que não levassem seus filhos para a escola no dia seguinte.
Entre os depoimentos coletados durante a operação estão o relato de uma tentativa de uso da casa de uma moradora para servir de base para a operação, uma manobra conhecida como tróia. “Pelo amor de Deus, estou dentro da casa da minha sobrinha. Eles estão querendo entrar aqui dentro. Estão querendo dar tiro dentro da casa da minha sobrinha. Nossa, eu não sei, eu já fiquei nervosa, eu tomo água com açúcar. Eu não sei o que eu faço”. A ouvidora Fabiana Silva informou ao Brasil de Fato que o órgão segue coletando depoimentos dos moradores sobre a operação para posterior judicialização.
Presente na localização de corpos realizada pelos moradores na zona da mata que liga os Complexos do Alemão e da Penha, Raul Santiago falou da polarização de discursos nesse momento. Ele comentou a declaração de Cláudio Castro em que afirma que todos os mortos eram vinculados ao tráfico por estarem em uma zona de mata e explicou que zona da mata que une o Alemão e a Penha é uma região que funciona uma pedreira e é espaço de lazer que tem muitas moradias no seu entorno, ainda assim, questionou a autorização para as mortes. “Essas mortes precisam ser investigadas porque não há previsão em lei de pena de morte ou execuções no Brasil”.
Já o fundador e diretor do Voz das Comunidades, Rene Silva, lembrou que a Operação é um exemplo da falta de políticas públicas para as favelas ao comentar a entrada de jovens para o tráfico. “[Esse processo] é fruto dessa falta de política pública de estado que só entra na favela para matar, para tirar” e lembrou da Operação ocorrida em novembro de 2010. “Há exatos dez anos estávamos vivendo esse mesmo momento, com repercussão internacional, e o estado continua agindo da mesma forma na favela, entregando bala e tiroteios”,
Editado por: Juliana Passos

